O apoio institucional como método de análise-intervenção no âmbito das políticas públicas de saúde: a experiência em um hospital geral.Institutional support as a method of analysis-intervention in the context of public health policies: the experience in a general hospital.Resumo O artigo aborda a construção de um método de análise/intervenção no âmbito das políticas públicas de saúde, que se delineia de forma articulada aos princípios da Política Nacional de Humanização do SUS em um hospital geral. Apresenta o apoio institucional como um método que se expressa num modo de fazer que persegue a criação de grupalidade, a análise dos processos de trabalho e envolve a problematização dos modos de gestão. A Política Nacional de Humanização aposta na produção da saúde que implica em produção dos sujeitos. A produção da saúde é um processo em rede que envolve sujeitos, processos de trabalho, saberes e poderes. O desafio do apoio é fomentar nessa rede o exercício do protagonismo dos sujeitos e convocar o potencial criativo pró-prio da vida para a construção de novos modos de gerir o trabalho que não sejam novas formas de assujeitamento. O estudo pretende mostrar que por meio do apoio institucional é possível colocar em cena as forças implicadas na produção de saú-de e com isso convocar os grupos a uma análise de suas implicações. Os efeitos produzidos indicam que esta é uma estratégia potente para a intervenção dos processos de trabalho no âmbito das políticas públicas de saúde. Palavras-chave Políticas públicas de saúde, Política nacional de humanização, Apoio institucional, Saúde do trabalhador Abstract The article addresses the elaboration of a method for analysis/intervention in the sphere of public health policies. It describes the introduction of the National Humanization Policy of the Unified Health System (SUS) in a general hospital. It proposes institutional support expressed as a method for doing things that seeks the creation of group action, work process analysis and involves examining work management methods. It relies on promotion of health, which implies the production of subjects. The promotion of health is a networking process that involves individuals, work processes, knowledge and power. The challenge of supporting this network is to foster the exercise of the role of individuals and summon the inherent creative potential of life for the construction of new ways of work management that are not new forms of subjection. The study aims to show that by means of institutional support it is possible to bring to the fore the forces involved in the promotion of health and thereby summon the groups for an analysis of its implications. The effects produced indicate that this is a powerful strategy for the intervention of work processes within the scope of public health policies.
IntroduçãoDesde sua criação em 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem experimentado inúmeros avanços e desafios, encontrando-se em permanente curso de mudanças, debatendo formas de organização do sistema, dos serviços e do trabalho, que definem os modos de se produzir saúde.Muitos dispositivos têm sido criados como forma de enfrentar os impasses cotidianos na rede e nos serviços. Dentre vários deles, podemos citar experiências de implantação do acolhimento como uma forma de qualificar o acesso dos usuários ao sistema de saúde e ofertar maior resolutividade 1,2 . O acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde 3,4 e tem como proposta reverter a lógica de organização e de funcionamento dos serviços, partindo de alguns princípios, como indicados por Franco et al.2 : 1 Atender a todas as pessoas que procuram serviços de saúde, garantindo acessibilidade universal e resolutividade. Assim, o serviço assume sua função de acolher, escutar e dar resposta capaz de resolver os problemas de saúde da população.2 Reorganizar o processo de trabalho, de forma que este desloque seu eixo do médico para uma equipe multiprofissional, a "equipe de acolhimento", que se encarrega da escuta do usuário, comprometendo-se a resolver seu problema de saúde. A consulta médica é requisitada só para os casos em que ela se justifica. Dessa forma, todos os profissionais de nível superior e ainda os auxiliares e os técnicos de enfermagem participam da assistência direta ao usuário.3 Qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve se dar por parâmetros de solidariedade e cidadania.A implantação de dispositivos na Política Nacional de Humanização ocorre acompanhada de um método que procura superar a racionalidade gerencial hegemônica. Essa racionalidade se atualiza nos serviços de saúde com seus moldes tayloristas, com ênfase no trabalho fragmentado, na gestão verticalizada, pautada na disciplina e no controle como eixo central de gestão 5 . Tais modelos de gestão se exercem por mecanismos que controlam e assujeitam, que produzem efeitos de docilização e disciplinarização nos corpos, espaço aberto
O texto apresenta uma experiência de formação na Humanização com referenciais do apoio institucional. Na formação foram propostas diretrizes político-metodológicas: (i) tomar a rede do Sistema Único de Saúde (SUS) como o espaço concreto das relações de trabalho e produção de subjetividades, induzindo-se a pensá-la em sua ‘capacidade autônoma’ (ii) compreendendo o apoio institucional como estratégia de se entremear nos movimentos de tal rede, potencializando a sua condição de autonomia e (iii) concebendo o processo formativo como estratégia de colocar em análise os modos de trabalho nessa rede, induzindo ou fortalecendo o potencial dos trabalhadores para agirem como apoiadores institucionais. Este é o produto-efeito que aqui indicamos para agregar em si os objetivos ampliados dessa atividade formativa. O curso exerceu função de grupalidade, aqueceu redes, mas não é um processo finalizado, pois que acompanha a vida na variação que lhe é própria.
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