Background The study of cultural transmission can help identify processes that influence knowledge systems dynamics and evolution, especially during childhood and youth, which are fundamental phases in acquiring survival skills. In this sense, we use the knowledge about useful restinga plants (Brazilian coastal vegetation) as an analytical model to describe, compare, and analyze cultural transmission during youth, while factoring in origin, in the Cabo Frio region, southeastern Brazil. We tested (1) whether transmission of knowledge is conservative, (2) whether immigration events define the transmission modes, (3) whether teaching is the most important social transmission cognitive process, and (4) which type of stimulus/context is most important for the knowledge transmission process. Methods Questionnaires and free listings were applied to 150 high school students aged between 15 and 20 to obtain information about socioeconomic characteristics, useful plant knowledge, and cultural transmission. We analyzed the distribution of knowledge according to the informant’s origin and evaluated the models, processes, and context with which this information was transmitted. The chi-square test was used to determine the association between origin, plant knowledge, and transmission as well as to reveal the most important models, modes, and processes during youth. Results Informants provided 299 plant citations ($$ \overline{x} $$ x ¯ = 1.75; s = 1.73) related to 37 species. The categories of the most cited uses were edible (93) and medicinal (32). Statistical results showed that origin did not influence knowledge distribution and transmission. In addition, although the most relevant mode was the conservative (vertical) one, the one-to-many diffuse mode (teacher) was highlighted. The new environmental context for immigrants did not influence transmission, the main transmission process was teaching, and the learning contexts were predominantly school-related. Conclusion Plant knowledge in youth was related to local edible and medicinal plants, indicating adaptive knowledge linked to material demands for survival. While the initial models for cultural transmission are family (vertical), during the development phase of juveniles, other actors become models (one-to-many). In addition, the nature of the information (survival demand) and age are more relevant to cultural transmission than the socio-environmental context.

<p>A pesca artesanal é o principal meio de sobrevivência para cerca de 39 milhões de pessoas no mundo. As mulheres representam 50% da força de trabalho nos setores de pré e pós-captura, no entanto, seguem na invisibilidade. Tal espaço de labor ainda é majoritariamente masculino, tanto que no Brasil meio milhão de trabalhadoras da pesca continuam marginalizadas devido ao preconceito de gênero, ainda que sejam detentoras de conhecimentos que garantem a sobrevivência de suas famílias, como em Arraial do Cabo (RJ). O estudo, nesse contexto, objetivou investigar o papel delas nas atividades pesqueiras realizadas pela comunidade tradicional do município – uma das mais antigas e importantes do estado do Rio de Janeiro –, assim como seus conhecimentos sobre as plantas da restinga utilizadas na pesca, especialmente entre os períodos compreendidos entre 1940-1960 e a partir de 1990 até hoje. Para tal, foram realizados levantamentos bibliográficos sobre a história da região e entrevistas com duas nativas, cujos dados demonstraram que em décadas passadas elas eram responsáveis pelo beneficiamento do pescado através da salga, serviço remunerado por donos de paióis e tido como secundário. Hoje em dia elas atuam na captura, no beneficiamento e na confecção de diversos produtos – à base de peixe – para comercialização. Tais tarefas indicam que o papel da mulher na atividade pesqueira vem sofrendo mudanças. Ademais, elas detêm conhecimentos importantes quanto à segurança alimentar, os recursos pesqueiros e a flora da restinga, bem como sobre frutos nativos e o preparo de alimentos locais.</p>

A pesca artesanal é o principal meio de sobrevivência para cerca de 39 milhões de pessoas no mundo. As mulheres representam 50% da força de trabalho nos setores de pré e pós-captura, no entanto, seguem na invisibilidade. Tal espaço de labor ainda é majoritariamente masculino, tanto que no Brasil meio milhão de trabalhadoras da pesca continuam marginalizadas devido ao preconceito de gênero, ainda que sejam detentoras de conhecimentos que garantem a sobrevivência de suas famílias, como em Arraial do Cabo (RJ). O estudo, nesse contexto, objetivou investigar o papel delas nas atividades pesqueiras realizadas pela comunidade tradicional do município – uma das mais antigas e importantes do estado do Rio de Janeiro –, assim como seus conhecimentos sobre as plantas da restinga utilizadas na pesca, especialmente entre os períodos compreendidos entre 1940-1960 e a partir de 1990 até hoje. Para tal, foram realizados levantamentos bibliográficos sobre a história da região e entrevistas com duas nativas, cujos dados demonstraram que em décadas passadas elas eram responsáveis pelo beneficiamento do pescado através da salga, serviço remunerado por donos de paióis e tido como secundário. Hoje em dia elas atuam na captura, no beneficiamento e na confecção de diversos produtos – à base de peixe – para comercialização. Tais tarefas indicam que o papel da mulher na atividade pesqueira vem sofrendo mudanças. Ademais, elas detêm conhecimentos importantes quanto à segurança alimentar, os recursos pesqueiros e a flora da restinga, bem como sobre frutos nativos e o preparo de alimentos locais.