Dez reumatologistas que trabalham em serviços que atendem grande número de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico, alguns dos quais têm pesquisa e publicações científicas nesta área, foram convidados a participar do grupo de trabalho. Todos se reuniram para discutir o tratamento das diferentes manifestações da doença, subdivididos em grupos de trabalho, cada qual ficando responsável por buscar a melhor evidência para o tratamento de um ou mais comprometimentos da doença. A última edição de Dubois's Lupus Erythematosus, editado por Wallace D e Hahn B, em 2007 (Lippincott Williams & Wilkins), foi utilizada como base da discussão. Trabalhos publicados nos últimos cinco anos foram pesquisados no MedLine. Em virtude da freqüência e da heterogeneidade de manifestações da doença, a maioria dos trabalhos terapêuticos não contempla grande casuística, nem são randômicos e controlados. Como as manifestações e a gravidade da doença variam em diferentes grupos populacionais, devemos avaliar com cuidado os estudos realizados em grupos populacionais distintos.
Grau de Recomendação e Força de EvidênciaA: Estudos experimentais e observacionais de melhor consistência.B: Estudos experimentais e observacionais de menor consistência. C: Relatos de casos (estudos não controlados).
D:Opinião desprovida de avaliação crítica, com base em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais.
objEtIvoSElaborar recomendação fundamentada na melhor evidência científica para o tratamento das diversas manifestações do lúpus eritematoso sistêmico.
INtRoDuçãoO lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, multissistêmica, de causa desconhecida e de natureza auto-imune, caracterizada pela presença de diversos auto-anticorpos. Evolui com manifestações clínicas polimórficas, com períodos de exacerbações e remissões. De etiologia não totalmente esclarecida, o desenvolvimento da doença está ligado a predisposição genética e fatores ambientais, como luz ultravioleta e alguns medicamentos.É uma doença rara, incidindo, mais freqüentemente, em mulheres jovens, ou seja, na fase reprodutiva, na proporção de nove a dez mulheres para um homem, e com prevalência variando de 14 a 50/100.000 habitantes, em estudos norte-americanos (1) (D). A doença pode ocorrer em todas as raças e em todas as partes do mundo.Na prática, para o diagnóstico de LES utilizam-se os critérios de classificação propostos pelo American College of Rheumatology (2) (B), em 1982, e revisados em 1997 (3) (D). O diagnóstico se fundamenta na presença de, pelo menos, quatro dos 11 critérios descritos na Tabela 1.