A Serra dos Tapes, região ao sul do Rio Grande do Sul que compreende, entre outros, os municípios de Pelotas, São Lourenço do Sul e Canguçu, é habitada por grupos camponeses de diferentes origens e identidades étnicas, cujos modos de vida são aqui abordados tendo a comida e a imagem como objetos, símbolos e instrumentos de partilha, mediação e diálogo da agenda de pesquisa "Saberes e Sabores da Colônia". Conduzida pelo
A Bacia do rio Gramame, estado da Paraíba, Brasil, é uma das principais fontes de abastecimento da Grande João Pessoa e também de onde muitos ribeirinhos e quilombolas tiram seu sustento. No entanto, modificações causadas por cargas de poluição no rio Gramame têm se tornado recorrentes e se somam ao cenário brasileiro de inquietante frequência de conflitos e eventos que têm na questão ambiental um importante componente. Essas contaminações, que ocorrem por ao menos quatro décadas no Gramame, possuem origem industrial, agrícola e urbana e causam mudanças nas características do rio. Um dos territórios afetados é a comunidade quilombola de Mituaçu, na área rural do município do Conde (PB). Com terras férteis e protegida por rios, especialmente o Gramame, esse rio é mencionado como tendo criado muitas famílias em Mituaçu: ele “protege” a comunidade dos avanços da cidade; é onde tomavam banho; onde aprenderam a nadar, pescar, andar de barco; muitos moradores lembram que outrora a pesca evitava a fome, ao suprir a comunidade com abundância de caranguejos, peixes e camarões. Diante desse quadro, este artigo procura analisar as ressignificações e adaptações deste território, diante (e apesar) do cenário associado em particular à poluição deste rio. Procuramos descrever, entre práticas criativas e memórias, a conformação de sistemas complexos de conhecimento tradicional que se reinventam tendo em vista as mudanças que experimentaram.
RESUMODiante de um contexto em que a possibilidade de participar de processos de reivindicação identitária e a busca de direitos sociais dentro da categoria de remanescentes de comunidade de quilombo passou a fazer parte do cotidiano de muitas comunidades negras do Brasil nas últimas décadas, neste artigo serão abordados elementos da configuração interétnica dinâmica de São Lourenço do Sul, Rio Grande do Sul, local que se destaca pela a presença de diferentes grupos étnicos, debatida aqui por algumas das estratégias de inserção das comunidades negras em suas relações de trabalho. Nesse trabalho, que faz parte de pesquisa de doutorado finalizada em 2015, foram utilizados métodos etnográficos. Em suas diversas facetas e renovações, esse artigo procura explorar continuidades e rupturas nessa configuração, incluindo a imbricada rede de relações entre grupos sociais que vai muito além de qualquer fronteira. Palavras-Chave: Etnicidade; Remanescentes de comunidades de quilombos; Identidade étnica. BELONGINGS, BOUNDARIES AND INTERSECTIONS: IDENTIFICATION PROCESSES IN SÃO LOURENÇO DO SUL, RIO GRANDE DO SUL ABSTRACTIn a context in which the possibility of participating in identity recognition processes and the pursuit of social rights within the quilombo community category has become part of everyday life for many black communities in Brazil in recent decades, this article will discuss elements of the dynamic inter-ethnic configuration of São Lourenço do Sul, Rio Grande do Sul, a place that is distinguished by the presence of different ethnic groups, discussed here by some insertion strategies of black communities in the workspace. In this study, part of doctoral research completed in 2015, we used ethnographic methods. In its various facets and renovations, this article seeks to explore continuities and ruptures in this inter-ethnic configuration, including the intertwined network of relationships between social groups that go far beyond a border. A dinâmica das relações raciais: dados, abordagens e intersecções 8 INTRODUÇÃO Em todo o país se multiplicam grupos locais que reconhecem no cotidiano das suas vidas elementos culturais, políticos e raciais que os conectam a categorias mais amplas. Nessa perspectiva, inúmeras comunidades negras têm se identificado através da categoria atualmente qualificada pelo poder público como "remanescente de comunidade de quilombo" no Brasil, a qual tem como marco temporal o Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição de 1988, que aponta para a regularização fundiária dessas comunidades.Frequentemente invisibilizados como camponeses ou simplesmente "pobres", ao se autoatribuírem como remanescentes de quilombos esses grupos assumem também uma nova posição política, de sujeito de direitos, vinculada ao elemento da ancestralidade e das suas próprias territorialidades.Além da identificação de laços sociais em comum entre essas diversas comunidades afrobrasileiras, muito variável devido à trajetória de cada uma, há um reconhecimento coletivo de uma luta ...
Por meio do presente texto, que faz parte de pesquisa mais ampla que se relaciona com uma diversidade de artefatos, imagens e saberes quilombolas, apresentaremos o processo de construção compartilhada de uma coleção etnobotânica na comunidade quilombola de Mituaçu, Paraíba, visualizando a convivialidade a partir da prática vivida. Focaremos aqui na abordagem feita sobre o desenho enquanto um modo de pensar, de prestar atenção, de se engajar e observar detalhes e relações entre diferentes seres. O acervo corresponde à coleção etnobotânica de plantas medicinais com materiais desenhados, fotografados, bordados, em bricolagens e exsicatas, relacionando-as aos usos e relações que as permeiam. Desse modo, a coleção não se restringe a uma catalogação classificatória ou objetivante, mas sim a percorrer os contextos, as pessoas e os usos de diferentes plantas.
Na colônia de Pelotas, região da Serra dos Tapes, ao sul do Rio Grande do Sul, uma densa composição de relações perpassa aspectos produtivos e socioeconômicos, fronteiras étnicas e alianças políticas, configurando, entre distâncias e proximidades, um espaço bastante complexo socialmente. Nele estão presentes agricultores com produção diversificada, convencionais e agroecológicos, fumicultores, pecuaristas, produtores mais capitalizados e mesmo empresas, as quais cultivam soja, arroz, eucalipto ou outros. Esses sujeitos se articulam a partir de interesses específicos, sejam voltados às inúmeras expressões da agricultura familiar, seja ao que se convencionou chamar de agronegócio, sem uma separação estrita. A essas características se entrecruzam as marcantes distinções étnicas presentes na região, que remetem a colonos de diferentes origens, brasileiros, quilombolas, povos indígenas e outros 1. Neste espaço rural complexo, em que, desde 2011, pesquisamos o tema da alimentação através da agenda de pesquisa Saberes e Sabores da Colônia, passamos a atentar também para os fluxos de materiais, as experiências entre pessoas e coisas, assim como as narrativas associadas a tais práticas e concepções-cerne do projeto Saberes e sabores, objetos e imagens da colônia 2 , que ora nos atém. Através do trabalho etnográfico foi possível observar, por exemplo, habitações matriarcais, cuidadas com afeto por mulheres ao longo de gerações 3 , pessoas e plantas benzidas, invenções, guardiania de saberes e relatos sobre as complexas
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