(Vilém Flusser, 1998, p. 96) Este texto se propõe a ser um ensaio, uma experimentação. Penso que esta seja a alternativa viável quando nos deparamos com uma questão na realidade e não encontramos suficientes argumentos científicos para problematizá-la. Com isso não quero dizer que este texto se constitua num rascunho, mas antes numa tentativa de organização de reflexões a respeito de uma noção ainda pouquíssimo trabalhada na geografia: a de corporeidade.Parto de um problema já expresso por intelectuais em outros campos do saber. Paul Connerton (1999) chama atenção para o reducionismo criado pela ciência ao eleger a hermenêutica como única ou hegemônica possibilidade de interpretação de fatos e eventos. A supremacia da lingüística dentro das ciências humanas consagrou as inscrições como instrumento exclusivo ou principal através do qual poderí-amos acessar elementos da realidade. As prá-ticas de incorporação, em decorrência deste fato, foram relegadas a um segundo plano e estimularam pouca produção de reflexões.No meu caso, como pesquisador das performances festivas, as práticas de interação entre corpo e espaço são extremamente significativas para decodificação das construções de identidades e de lugares. Mas um entrave é aí colocado: com que referenciais trabalhar para pensar as práticas de organização espacial que não estão estabelecidas somente no nível das inscrições? Fatos memoriais e da gestualidade por muitas vezes se constituem somente em expressões fugazes, em contextos que a espacialidade é estabelecida unicamente pela presença corporal, como uma dança ou ritual. É neste sentido que este texto se propõe a ensaiar a corporeidade, buscando reunir e problematizar alguns esforços de interpretação das identidades a partir das interseções estabelecidas entre o corpo e o espaço. Não pretende ser, desta forma, um texto conclusivo ou definidor de uma categoria. Almeja antes ser um texto fecundante, contribuindo para a edificação de mais argumentos para constituição de uma idéia de corporeidade envolvida na produção de identidades socioespaciais.Por isso proponho um ensaio. Este gênero de composição é, como exercício de vida e de escrita, como defende Cássio Hissa (2006), o estabelecimento de uma possibilidade da provisoriedade, da experimentação e do im-
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