Na edição de 2018 da Primavera Literária, em Evanston, IL, numa das várias mesas a que assisti, houve dois momentos que chamaram minha atenção de maneira intrigante para uma das pessoas que participavam do painel. Em dado momento, após uma pergunta dirigida à mesa, percebi que nossas cabeças balançaram ao mesmo tempo em sinal de negativa. Em outra ocasião, um gesto de esconder seus olhos com as duas mãos refletiram minha reação, que só se deu no plano mental, a outro comentário. Essa espécie de sintonia relampejante fomentou o interesse em estender o que havia sido uma rápida troca de palavras-no corredor adjacente à sala em que ocorreu o debate-a uma entrevista com a, então para mim desconhecida, vencedora de dois Prêmios Jabuti e de dois Prêmios Açorianos, Natalia Borges Polesso. 1 Já que a distância se apresentou como uma barreira, a autora gentilmente concordou em conceder esta entrevista por meio de conversas em redes sociais e correspondência por emails.Professora e escritora, doutora em Teoria da Literatura, já em sua estreia na literatura, em 2013, com Recortes para álbuns de fotografia sem gente, recebeu o mais importante prêmio do Rio Grande do Sul, estado onde nasceu, realizou seus estudos de graduação e pós-graduação e para onde regressou após residir temporariamente na Europa por conta da realização de um período de doutoradosanduíche. Após a publicação de um livro de poesia em 2015 e do aclamado, internacionalizado em traduções e quatro vezes premiado Amora (2016), Natalia 1 Com Amora, Natalia Borges Polesso ganhou o prêmio da Associação Gaúcha de Escritores (AGES), o Açorianos e o Jabuti, este último em duas categorias. Além disso, neste ano de 2018, Amora foi aprovado no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) e um excerto do conto "Vó, a senhora é lésbica?" foi selecionado para fazer parte de uma das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).