ResumoObjetivo: Este estudo teve o objetivo de produzir uma hipótese plausível para explicar a ausência de uma linha consolidada de pesquisas interpretativas e críticas em Contabilidade no Brasil. Método: Apresento, neste estudo, uma análise da constituição do campo científico na Contabilidade brasileira, construída a partir de evidências obtidas por meio de revisão da literatura sobre a história da Contabilidade no Brasil e, subsidiariamente, de fontes documentais e de reflexões decorrentes de minha recente trajetória nesse campo, tendo como base teórica os conceitos de campo, capital, habitus e campo científico, oriundos da obra do sociólogo Pierre Bourdieu. Resultados: Identifico a baixa autonomia do campo acadêmico em relação ao campo profissional, evidenciada pela origem dos cursos superiores em ciências contábeis a partir de esforços de lideranças da profissão e pelas constantes tentativas de ingerência das entidades profissionais sobre o ensino de Contabilidade, como causa da baixa diversidade na pesquisa contábil brasileira. Contribuições: Em face dos constantes apelos por uma maior aproximação entre a academia e a prática contábil, os resultados deste estudo servem como um alerta para os efeitos deletérios que podem advir, se tal aproximação se der sob as atuais condições de subordinação do campo científico a interesses do campo profissional. Palavras-chave: Campo Científico; Pesquisa Contábil Brasileira; Sociologia da Ciência.
Resumo: Evidências sugerem que a pesquisa contábil brasileira passou por uma mudança de paradigma entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, com a ascensão do positivismo em detrimento de abordagens normativas. Contudo, os estudos sobre este fenômeno têm se concentrado nas características metodológicas da produção analisada, embora a literatura pertinente defina os paradigmas como conjuntos de premissas subjacentes às escolhas metodológicas e compartilhadas por uma comunidade científica. Assim, o objetivo deste estudo é identificar quais são as premissas compartilhadas pela comunidade acadêmica brasileira, contribuindo para caracterizar o positivismo prevalente na pesquisa contábil nacional não apenas como um processo de homogeneização metodológica, mas também discursiva. Para tanto, propõe-se uma análise de 20 artigos sobre as International Financial Reporting Standards (IFRS), conduzida sob os pressupostos teórico-metodológicos da Análise Crítica do Discurso (ACD), buscando-se reconstituir a ordem do discurso associada à prática social da pesquisa contábil no Brasil. Esta análise aponta a subordinação aos interesses da profissão contábil como principal característica do discurso da comunidade acadêmica nacional. Embora as limitações metodológicas não permitam alegar que tais resultados reflitam toda a diversidade da pesquisa contábil conduzida no Brasil, eles indicam que o positivismo prevalente na pesquisa contábil brasileira serve para que a comunidade acadêmica reafirme acriticamente interesses do campo profissional.
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Objetivo: Os objetivos deste artigo são apresentar reflexões sobre os processos que levaram à constituição do meu habitus como pesquisador crítico em contabilidade, discutir os pressupostos da pesquisa crítica, contribuir para a compreensão do funcionamento da comunidade de pesquisadores(as) críticos(as) em contabilidade no Brasil e apontar desafios que essa comunidade enfrenta para estabelecer sua relevância no campo acadêmico brasileiro. Método: Tendo por base teórica os conceitos de habitus e campo científico, desenvolvo uma narrativa autobiográfica sobre minha trajetória acadêmica, durante a qual tenho buscado desenvolver uma agenda de pesquisas críticas em contabilidade no Brasil. Resultados: Elenco a rejeição epistemológica ao objetivismo e o comprometimento axiológico com alguma noção de justiça social como características definidoras da pesquisa crítica. Também aponto mecanismos de vigilância que, em minha percepção, contribuem para a manutenção da hegemonia do mainstream na pesquisa contábil brasileira: um acordo tácito pelo qual abordagens interpretativas e críticas limitam-se a temas periféricos no campo; um discurso da (in)competência; e a possibilidade de conversão de capital simbólico em capital econômico. Além disso, discuto algumas fragilidades que identifico na incipiente comunidade de pesquisadores(as) crítico(as) brasileira, tais como a falta de disposição para confrontar o mainstream, a baixa receptividade à crítica de si mesma e a falta de contato prévio com os referenciais teóricos comumente empregados na pesquisa crítica. Contribuições: O artigo apresenta algumas das estratégias que tenho adotado em minha atuação como pesquisador crítico, e provoca a comunidade brasileira de pesquisadores(as) crítico(as) a reavaliar sua relação com o mainstream da pesquisa contábil.
Resumo A convergência das normas contábeis brasileiras às Normas Internacionais de Contabilidade (International Financial Reporting Standards - IFRS) foi impulsionada pela criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), em 2005, e pela Lei n. 11.638/2007. Entretanto, os aspectos políticos desse processo, tais como o papel da academia na legitimação das IFRS, têm sido pouco explorados. Assim, propomos neste artigo uma análise crítica do discurso, tendo como objeto o capítulo de livro “Convergência da contabilidade brasileira às Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS): retrospectiva histórica e desafios para o futuro”, de autoria de Salotti, Carvalho e Murcia (2015), almejando identificar as principais estratégias discursivas empregadas para construir uma narrativa hegemônica sobre a adoção das IFRS no Brasil. No referencial teórico, discutimos os conceitos de ideologia e hegemonia, assim como os papéis dos intelectuais e da academia na construção e disseminação de narrativas ideológicas. Empiricamente, por meio da análise crítica do discurso, as propriedades formais do texto são descritas, apontando seus valores experienciais, expressivos e relacionais. Além disso, propomos uma interpretação do processo de produção e uma explicação das condições sociais de produção do texto. O silenciamento de vozes dissonantes, a omissão de agência e a representação da comunidade e das práticas contábeis brasileiras em condição de inferioridade técnica e cultural são identificados como principais estratégias discursivas empregadas no texto para reproduzir e ratificar discursos do campo profissional, valendo-se do capital simbólico possuído pelos autores em virtude da posição que ocupam no campo acadêmico para atribuir universalidade a entendimentos dos organismos normatizadores.
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