Resumo: O objetivo do presente artigo é oferecer uma interpretação de algumas das leituras recentes sobre o populismo, detendo-se em dois aspectos fundamentais dos usos do conceito: (i) distinguir que tipo de processos políticos o populismo pretende explicar e se seu uso é suficiente para diferenciá-lo analiticamente de outros fenômenos semelhantes; e (ii) entender como tais interpretações articulam o populismo com uma compreensão do funcionamento e da eventual crise da democracia. A tese aqui é a de que os usos do conceito de populismo sempre se definem a partir de uma determinada concepção de democracia e, por conseguinte, do tipo de conflito que a ação política populista desperta em seu interior. Usos diversos do conceito de populismo pressupõem leituras diferentes e expectativas distintas sobre a interação entre representação e democracia e, portanto, estão relacionados com concepções diferentes sobre os limites da relação entre legitimidade democrática e instituições políticas.
Este artículo pretende presentar una radiografía del populismo reaccionario en el poder, describiendo cómo diversos elementos ideológicos de la cultura política brasileña e internacional han sido reunidos por el movimiento político de extrema derecha liderado por Jair Bolsonaro. Los autores se retrotraen a la discusión politológica sobre el populismo de extrema derecha y concluyen por un análisis del bolsonarismo como “lulismo al revés” [às avessas].
RESUMO Este artigo explora o uso do conceito de opinião pública na constituição da linguagem liberal francesa do final do século XVIII e início do XIX a partir das obras de Benjamin Constant, Germaine de Staël, François Guizot e Alexis de Tocqueville. Nossa hipótese central é a de que o uso do conceito de opinião pública no argumento liberal transforma os limites da concepção revolucionária de representação como resultado da manifestação do povo como corpo soberano. A sociedade, enquanto lócus da legitimidade, exerce sua soberania não apenas através do mecanismo representativo, mas fundamentalmente por meio de um espaço público no qual se articulam e disputam narrativas pela melhor forma de organizar e conduzir o governo. Ao mesmo tempo, a expansão da opinião pública e os riscos de sua instabilidade colocam-na como um problema central para entendermos a relação entre liberalismo e democracia.
IntroduçãoO século XXI tem sido marcado por um aprofundamento dos questionamentos em torno da aliança -que o pós-guerra, ao menos nos países centrais do hemisfério Norte, consagrou como indissolúvel -entre liberalismo e democracia. De fato, o percurso desses dois conceitos políticos tem sido mais ou menos aproximado em diversos momentos da história. Se voltarmos à obra Liberalismo e Democracia de Norberto Bobbio, que permanece até hoje a principal referência de síntese do problema, veremos que o pensador italiano estabelece uma distinção conceitual clara entre os dois. Bobbio afirma que o liberalismo é uma teoria do Estado, Paulo Henrique Paschoeto Cassimiro 250 da institucionalização dos poderes do Estado e de suas limitações, enquanto a democracia é uma forma de governo que estabelece o fundamento do poder não em um nem em poucos, mas na maioria do povo (demos). Assim, "um Estado liberal não é necessariamente democrático: ao contrário, realiza-se historicamente em sociedades nas quais a participação no governo é bastante restrita, limitada às classes possuidoras" (Bobbio, 2013). Ao mesmo tempo, "um governo democrático não dá vida necessariamente a um Estado liberal: ao contrário, o Estado liberal clássico foi posto em crise pelo progressivo processo de democratização produzido pela gradual ampliação do sufrágio" (op. cit., p. 7-8).Para Bobbio, a formulação clássica da diferença entre liberalismo e democracia encontra-se na distinção feita por Benjamin Constant em sua célebre conferência pronunciada no Ateneu Real de Paris em 1819, A Liberdade dos Antigos Comparada à dos Modernos. Para Constant, a liberdade dos antigos caracterizava-se pela participação dos cidadãos em um espaço livre de deliberação, por meio do qual o poder era exercido coletivamente e diretamente. Porém, a liberdade pública não implicava a existência de uma dimensão privada de liberdade. Ao contrário, Constant lembra-nos de que a liberdade de culto, por exemplo, pareceria um crime aos antigos, completando que "mesmo nas coisas que nos parecem as mais fúteis, a autoridade do corpo social se impõe e controla e gera a vontade dos indiví-duos" (Constant, 1997, p. 594). Ao contrário, a liberdade moderna implica justamente o direito de gozar da liberdade na esfera privada, cabendo ao governo garanti-la. A participação direta e universal dos homens acabaria por limitar, ou mesmo destruir, a liberdade individual, exigência incondicional da sociedade moderna. Para Bobbio, o liberalismo de Constant representa uma visão paradigmática da incongruência basilar da diferença fundamental entre esquerda e direita, que ele formulará em uma obra posterior: o acento sobre a igualdade ou sobre a liberdade.Se recorrermos a outra formulação clássica, a de Isaiah Berlin em sua obra Os Dois Conceitos de Liberdade, encontraremos um raciocínio semelhante ao do filósofo italiano. Para Berlin (1969) É certo que Isaiah Berlin e Norberto Bobbio não são pensadores necessariamente antidemocráticos, porém a democracia é pensada por eles no quadro da estrutura jurídico-polític...
Resumo O objetivo deste artigo é examinar a contribuição de Pierre Rosanvallon para a compreensão do populismo. Para tanto, adotamos duas abordagens: a primeira, internalista, consiste numa análise rigorosa da obra Le Siècle du populisme (2020), assim como na articulação desta com sua teoria das mutações da democracia contemporânea (2006-2015); a segunda consiste no cotejamento de Le Siècle du populisme com obras de outros autores sobre o tema. O artigo está dividido em três segmentos. No primeiro, analisamos Le Siècle du populisme focando os dois aspectos que consideramos mais originais: a tipologia das “democracias-limite” e suas formas de degradação, e sua crítica ao populismo. No segundo, articulamos essa obra à sua teoria das mutações da democracia contemporânea. No terceiro, inserimos a obra de Rosanvallon no interior da bibliografia sobre o tema do populismo, explorando como o autor pensa o populismo em interação com a democracia e comparando-o com três das principais leituras contemporâneas sobre o tema: a de Nadia Urbinati, no campo da teoria democrática, e a de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, dois dos principais teóricos do “populismo de esquerda”, objeto da crítica de Rosanvallon. Concluímos que o que diferencia sua contribuição para a pesquisa sobre o populismo é o alcance de sua teoria, capaz de incorporar tensões e complexidades ao estudo da democracia, e que oferece uma saída para as ambiguidades teóricas das análises precedentes sobre o populismo.
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