Na medicina veterinária, diversas vezes, necessitamos realizar procedimentos cirúrgicos em animais gestantes, sejam eletivos ou emergenciais. Durante a anestesia geral inalatória em éguas prenhes, existe o risco de que alterações hemodinâmicas e hemogasométricas maternas possam comprometer a perfusão uteroplacentária e/ou oxigenação fetal, aumentando o risco de abortamentos ou partos prematuros. Geralmente, apenas emergências e cirurgias eletivas que não levem risco ao feto são realizadas, evitando-se, ao máximo, a anestesia geral em humanos ou animais gestantes. Em se tratando de equinos, quadros como abdômen agudo, são muitas vezes emergências cirúrgicas, sendo necessária a realização de anestesia geral inalatória na égua prenhe, já com alterações sistêmicas oriundas da afecção envolvida. Neste estudo objetivou-se avaliar as alterações maternas e fetais durante anestesia geral inalatória. Foram anestesiadas 9 éguas em terço final de gestação (>300 dias) e foram analisados parâmetros hemodinâmicos e hemogasométricos ao longo de 90 minutos de anestesia geral inalatória com isoflurano a 1,5 concentração alveolar mínima (CAM) para a espécie, comparandose simultaneamente com os dados de monitoração fetal, a fim de verificar sofrimento fetal ao longo do procedimento anestésico. Após a recuperação anestésica, as éguas e fetos foram diariamente monitoradas e tiveram todos os partos acompanhados, sendo realizado o escore APGAR para determinar a vitalidade neonatal. Além disso foi coletado sangue do neonato para avaliação de hemograma e perfil bioquímico hepático e renal. Observou-se, ao longo do tempo a redução do pH sanguíneo materno (T0 7,33 ± 0,08, tendo os valores reduzidos em T60 7,24 ± 0,04 e T75 7,24 ± 0,06), a pressão arterial de gás carbônico, apresentou valores a cima dos de referência para a espécie em T30 (60,7 ± 6,26) e T60 (64,15 ± 5,07), a pressão arterial de oxigênio, se elevando apenas em T60 (Fi 100% 149 ± 56,45 mmHg). Com relação à monitoração fetal, observou-se redução da frequência cardíaca a partir de T30 (62,38 ± 7,05), que persistiu ao longo do período anestésico (T75 60,75 ± 5,92), com recuperação dos valores após recuperação anestésica (TPré 84,5 ± 12,07; Tpós 78,11 ± 14,82), demonstrando efeitos deletérios da anestesia nos parâmetros circulatórios fetais. Todas as éguas apresentaram parto dentro do período esperado e os potros receberam pontuação, ao nascimento, APGAR 8, avaliação máxima para todos os potros. Não foram observadas alterações hepáticas e renais nos neonatos.Conclui-se que, apesar das anestesias não ocasionarem perdas gestacionais ou alterações que influenciem o momento do parto, são evidentes as alterações hemodinâmicas maternas transanestésicas e, consequentemente, o sofrimento fetal, evidenciado por redução de frequência cardíaca. Recomenda-se minimizar ao máximo o período em que éguas em terço final de gestação sejam mantidas sob decúbito dorsal e sob efeito de fármacos anestésicos que deprimem o sistema cardiorrespiratório, a fim de minimizar os efeitos deletérios da depress...