O artigo procede a uma análise crítica do discurso à Estratégia Nacional de Investigação e Inovação para uma Especialização Inteligente de Portugal 2014-2020 (ENEI). O propósito é interpretar as representações sobre o conhecimento científico e tecnológico subjacentes à ENEI e suas relações com o paradigma de desenvolvimento por si promovido, procurando discutir as correspondências com as representações da natureza, da sociedade e da educação. O trabalho apoia-se teoricamente na análise dos sistemas-mundo para articular a dimensão discursiva com a crítica normativa. A análise permitiu identificar a presença de uma conceção linear do desenvolvimento (catching up), de uma representação das pessoas, da natureza e da cultura como recursos, bem como de uma noção de conhecimento científico como um continuum de experimentação, descoberta e comercialização. Finalmente, identificou-se uma autorrepresentação de Portugal compatível com a categoria teórica da semiperiferia. Palavras-chave: análise crítica do discurso; conhecimento científico; política científica e tecnológica; política de inovação; Portugal. 1 As representações sociais serão entendidas, parafraseando Marková (2006), como a síntese das explicações que emergem e são reproduzidas pela comunicação intersubjetiva e que constituem um tipo específico de conhecimento que afeta o modo como as pessoas pensam e organizam a sua vida quotidiana, geralmente denominado "senso comum".
Ao longo da última década, marcada pela terceira onda de autocratização, a democracia brasileira tem enfrentado uma crise profunda, constituindo um dos casos mais importantes de autocratização em nível global. Partindo das propostas teóricas associadas ao conceito de autocratização desenvolvidas na Ciência Política, o artigo visa analisar a sequência de autocratização no Brasil ao longo da última década, procurando estabelecer uma visão global e panorâmica do processo. Considerando tanto os aspetos associados ao ator/agência como os aspetos estruturais/contextuais, bem como a interação que estabelecem entre si, o artigo argumenta que a crise da democracia brasileira não começou em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência, e não terminou com a sua derrota eleitoral em 2022. De facto, a eleição de Bolsonaro constitui mais um sintoma (fundamental, é certo!) dessa crise, permanecendo a democracia brasileira exposta a riscos de autocratização relevantes que merecem ponderação e discussão nesta nova fase política marcada pelo regresso de Lula à presidência. Da sua resolução e da ação dos atores pró-democracia dependem as perspetivas futuras da democracia brasileira.
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