Elaborado para apresentar o tema da XIX Semana de História da UFG – “História em tempos de crise: anticientificismos, revisionismos, negacionismos” – este texto foi lido na Mesa de Abertura do evento, ocorrida online em 07 de dezembro de 2020. Ele se estrutura a partir do estabelecimento de um paralelo entre dois momentos de crise: de um lado, o período entre o final da década de 1980 e o início dos anos 2000, marcado por uma crise do paradigma científico da história; e, de outro, a conjuntura atual, caracterizada por uma crise de confiança na ciência enquanto bem e enquanto valor. Por meio desse paralelo, trata-se não só de evidenciar as especificidades de cada um desses dois momentos, mas também de apresentar a perspectiva da Comissão Organizadora da XIX Semana de História quanto aos modos de enfrentar a crise atual: por meio de um diálogo para além das fronteiras da história e, mais ainda, para além das ciências humanas.
Resumo A partir da análise de três contos - "Aurora sem dia" (1873), "O programa" (1882) e "Vênus! Divina Vênus!" (1893) -, este artigo discute a figuração do poeta vulgar em Machado de Assis. Por meio dela, procuro demonstrar que o autor atualizou o modelo poético do "Poeta sem Arte", construindo uma figura de poeta vulgar como modo de problematizar o que via como efeitos negativos do triunfo do Romantismo. Essa crítica associou-se, no entanto, a modificações na poética machadiana; a postura normativa e pedagógica, empenhada em evidenciar o ideal do bom poeta, deu lugar progressivamente a uma abordagem mais historicizada daquela figura: de um charlatão oportunista a ser combatido e denunciado, ele passou a poeta de ocasião, objeto de simples registro irônico. Desse modo, Machado de Assis abandonava, igualmente, a perspectiva normativa própria do regime retórico-poético.
O objetivo deste artigo é analisar o modo como Machado de Assis se apropriou da tradição retórico-poética, reescreveu e atualizou gêneros poéticos tradicionais – em particular, a tragédia clássica – por meio do emprego da antonomásia. O escritor lançou mão desse procedimento retórico, que produz uma dupla nomeação da personagem, ao longo de toda a carreira, nos mais diversos gêneros que praticou. Analisando sua ocorrência em três contos – “Virginius: narrativa de um advogado” (1864), “O que são as moças” (1866) e “Pílades e Orestes” (1903), pretendo demonstrar as modificações por que passou a relação contraditória entre tradição retórico-poética e modernidade literária em Machado de Assis. Na segunda fase de sua obra, diferentemente do que ocorrera na primeira, os caracteres modernos foram tomados como herdeiros legítimos dos nomes antigos. Servindo-se dos nomes da tragédia para traduzir a história de personagens contemporâneas, Machado de Assis rompeu com a separação dos estilos, própria do regime retórico-poético, e demonstrou sua plena adesão ao conceito moderno de literatura.
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