O objetivo deste artigo é apresentar um saber comum das crianças sobre um modo de vida de trabalho de adultos, visível em uma escola fundamental em Foz do Iguaçu, Brasil, na fronteira com o Paraguai. Na introdução, circunscrevo o contexto da etnografia por meio de considerações téorico-metodológicas. Apresento, primeiro, a paradoxal presentificação da fronteira do Estado-Nação brasileiro na experiência escolar; segundo, a gramática moral do trabalho ilegal visto como legítimo; e, terceiro, exponho o saber das crianças da escola a respeito desse trabalho, explicitado por elas diante das cenas de um curta metragem exibido na sala de aula.
Partindo da ideia de que o modo como pensamos a fronteira é uma elaboração da fronteira que imaginamos e experimentamos por nós mesmos, o artigo tem como objetivo apresentar o entendimento local, próprio de habitantes e pesquisadores, a respeito do lado brasileiro com o Paraguai e com a Argentina. Esse entendimento é, ao mesmo tempo, a explicitação do argumento de que as paradoxais experiências coletivas na fronteira são instituintes da presença dos Estados-Nação na vida das pessoas e um exercício reflexivo de demonstração de que ele se correlaciona com o contexto político e institucional que nos constitui como nacionais. Utilizo resultados de pesquisas feitas e orientadas por nós, habitantes desta fronteira, a partir das quais depreendi quatro eixos temáticos predominantes, separados em termos metodológicos: o trabalho; a violação dos direitos; a educação; e a história e memória da construção das fronteiras espaciais, simbólicas.
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