A fístula enterovesical na doença de Crohn é relativamente incomum. O objetivo deste estudo é analisar sua incidência e o resultado do seu tratamento em doentes de Crohn no ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais do Serviço de Cólon e Reto do Departamento de Gastroenterologia do HCFMUSP. MÉTODOS:Dos 647 pacientes com doença de Crohn , quatorze apresentaram fístula enterovesical no período de 1984 a 2006, tendo sido todos tratados cirurgicamente. RESULTADOS: Dos quatorze pacientes, doze são homens sendo a média de idade do início da doença de Crohn de 28,8 anos. O tempo médio de evolução da doença até o diagnóstico da fístula enterovesical foi de 155,1 meses. Em relação à extensão da doença, sete pacientes tinham Crohn em intestino delgado, cólon e região perianal; cinco apenas no intestino delgado; um em cólon e região perianal e outro com acometimento de intestino delgado e perianal. No total treze pacientes tinham doença de Crohn em intestino delgado. O trajeto da fístula enterovesical mais comum foi de intestino delgado (seis pacientes). Os demais pacientes apresentaram fístula enterovesical em: cólon sigmóide (quatro pacientes), entero-colo-vesical (dois pacientes), colo-vesico-cutânea (um paciente) e outra entero-reto-vesical (um paciente). Todos foram tratados cirurgicamente com ressecção da porção intestinal acometida e sutura da lesão da bexiga, e em um doente foi feito cistectomia parcial. No pós-operatório imediato tivemos duas recorrências da fistula enterovesical, um paciente permanece em tratamento clínico e o outro foi a óbito. No acompanhamento dos demais doentes, observou-se que: oito pacientes apresentam-se sem sintomas e com medicação, três assintomáticos e sem medicação; um paciente com medicação e com sintomas relacionados à doença de Crohn (mas sem queixas ou recorrência de fístula enterovesical). CONCLUSÃO: O índice de fístula enterovesical em doentes com Crohn neste estudo foi de 2,1%. O tratamento cirúrgico da fistula enterovesical com a ressecção do intestino acometido e sutura da lesão da bexiga mostrou-se eficaz.
A Doença de Crohn ocorre, principalmente, em adultos jovens. Sua incidência entre membros da mesma família aproxima-se de 10%. Atualmente, os sintomas aparecem cada vez mais precocemente em crianças e adolescentes. No caso que relatamos, um paciente aos três dias de vida iniciou quadro de extensa lesão perianal, desenvolvendo, ulteriormente, outras complicações da Doença de Crohn. Esta criança apresentava, em sua história familiar, dois irmãos com a mesma doença, porém que não sobreviveram às complicações abdominais pós-operatórias. Chamou-nos a atenção a precocidade e a intensidade com que tais manifestações se apresentaram, implicando em sérias conseqüências ao paciente, já na primeira semana de vida.
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