Poucas áreas da ciência da linguagem pareceriam, à primeira vista, mais incomunicáveis do que a Dialetologia e a Gramática Gerativa. A primeira é uma área eminentemente empírica, aparentemente pouco preocupada com as especulações teóricas da linguística geral, com especial interesse pelo trabalho de campo e pelas técnicas de registro e armazenamento de formas linguísticas alternantes, dedicada especialmente ao estudo lexical e fonético e com uma concepção intrinsecamente heterogênea da linguagem humana. A segunda é um programa de investigação prioritariamente teórico e abstrato, com foco na sintaxe, e que aparentemente não se preocupa com o desempenho ou o chamado "uso linguístico real", tendo como ideal de investigação um "falante-ouvinte ideal em uma comunidade homogênea" e como objetivo a caracterização de uma hipotética Gramática Universal que não pode ser diretamente observada. Os estereótipos dessas duas áreas da linguística aparecem em completa oposição um ao outro. Ainda assim, desde a década de 1990, as preocupações e os métodos da Dialetologia e o arcabouço da Gramática Gerativa não apenas têm se conjugado, mas produzido resultados frutíferos, como nos casos dos projetos de atlas linguísticos dedicados especificamente a questões sintáticas.
Este artigo descreve as interrogativas clivadas básicas, que não têm recebido atenção na literatura. Estudos sobre clivagem concentram-se nos usos declarativos, e estudos sobre perguntas consideram “interrogativas clivadas” aquelas em que a cópula é omitida ou em que o QU antecede a cópula, que corresponderiam à clivada invertida, não à clivada básica. Aqui, o foco é sobre interrogativas com a estrutura “É __ que...?”. A partir de dados levantados na rede e de julgamentos de intuição, o trabalho descreve propriedades das clivadas básicas QU e polares, discutindo fatos inesperados, como a inaceitabilidade das clivadas QU em perguntas indiretas e a interpretação de pergunta parcial nas clivadas polares. O trabalho propõe uma análise baseada em movimento focal sem checagem do traço [+Wh]. Por fim, discute também a natureza da pressuposição (de existência ou de unicidade/exaustividade) codificada pelas clivadas, mostrando que clivadas QU e polares oferecem evidências contraditórias quanto a esse fenômeno.
Neste artigo, analiso o fenômeno da ambiguidade do escopo negativo em sentenças com adjuntos causais, temporais e de finalidade, em que a negação pode recair sobre o predicado ou sobre o adjunto. Discuto as análises de Huang (1982), Takubo (1985) e Johnston (1994) segundo os quais a ambiguidade decorre de diferentes relações de c-comando entre negação e adjunto, em decorrência da opcionalidade de adjunção ao VP e ao IP. Apresento uma série de fatos linguísticos que são problemáticos para essa análise, i.e., contextos em que o adjunto deve ser c-comandado pela negação, mas em que a ambiguidade ainda permanece, ao contrário do esperado. Argumento que o c-comando é uma condição necessária, mas não suficiente, para a definição do escopo e defendo que a disponibilidade das leituras de negação de predicado e de negação de adjunto decorre da opcionalidade da aplicação de rotulação no processo de adjunção, segundo Hornstein e Nunes (2008).
O trabalho descreve as negativas sentenciais pós-verbais no português do estado do Paraná, a partir de dados do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), como parte de um esforço mais amplo para o mapeamento da negação sentencial em dialetos da região Sul do Brasil (e, posteriormente, das regiões Centro-Oeste e Norte) em comparação com o Nordeste e com o português europeu (PE). O trabalho se justifica pelos indícios de que tais negativas têm presença muito mais restrita nos dialetos sulistas, sendo possivelmente variantes muito mais recentes nesses dialetos do que no Nordeste e (partes do) Sudeste do país. Os resultados mostram uma distribuição geográfica assimétrica de [neg VP neg] e de [VP neg] no Paraná, com [VP neg] estando ausente em vários dialetos em que [neg VP neg] já se manifesta. Quanto ao status gramatical dessas variantes, os resultados mostram que, apesar da pouca produtividade, elas se aproximam mais das propriedades das negativas pós-verbais no Nordeste do que das do PE, por estarem disponíveis em contextos interrogativos (polares) e completivos ao invés de restritas a declarativas matrizes.
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