Resumo Este artigo discute a relação entre duas tradições - a tradição do folheto de cordel, advinda da oralidade, feita e refeita no manuscrito e no escrito, e a tradição do discurso científico a respeito do folheto, construída por meio do discurso intelectual - que se entrelaçam em um jogo de autoridade e legitimidade sobre o que é a tradição no contexto de produção, recepção e crítica do cordel.
Os debates pós-moderno e decolonial sobre as relações entre as civilizações da oralidade e o mundo da escrita estão trazendo, embora tardiamente, uma epistemologia radicalmente crítica para o campo dos estudos da tradição nordestina da cantoria e do cordel. O novo paradigma — tanto histórico quanto contemporâneo — permite colocar a questão do papel e lugar das mulheres nesses territórios tradicionalmente masculinos. Ao focar um subgênero dessa poesia originalmente improvisada, o repente misto, em que uma cantadora desafia um cantador, e, nesse subgênero, a presença e função da violência masculina e feminina, esse artigo propõe uma reflexão crítica sobre temas centrais dos debates atuais sobre cordel, gênero, mulher e violência.
Desde os anos setenta do século passado, os estudos de mulher e de gênero trouxeram para o campo da historiografia ocidental, além das inúmeras provas das contribuições das mulheres para a cultura obliteradas ou distorcidas pela historiografia oficial, uma visão bem completa das estratégias de exclusão, apropriação, distorção e perseguição desse matrimônio, com o objetivo de perpetuar e justificar a visão do patrimônio cultural como superior, único e (quase) exclusivamente masculino. Repensar as funções e os funcionamentos altamente politizados que tiveram nos séculos XIX e XX as historias das literaturas nacionais e os seus cânones a partir do conceito de matrimônio abre o caminho para uma nova historiografia da cultura ocidental. Resgatar a imensa riqueza dos matrimônios locais e regionais da Europa medieval, bem como detectar as suas raízes, sua continuidade e permanência ao longo dos séculos, permitirão re-descobrir o outro Mundo, o outro projeto histórico que mulheres e seus aliados masculinos instauraram no mundo indo-europeu e continuam defendendo até hoje contra um patriarcado violento e hegemônico.
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