Este trabalho tem como objetivo relatar o percurso de investigação feito no campo da psicologia clínica, com a problematização da relação terapêutica a partir de aproximações com a concepção de amizade na filosofia de Nietzsche, Foucault e Blanchot, com a técnica da análi-se mútua concebida pelo psicanalista Sándor Ferenczi e com o conceito de agir político de Arendt e especialmente conceitos como o Fora, o devir, a transversalidade e outros criados por Deleuze e Guattari, fundamentais para a reflexão sobre a dimensão ética, estética e política da clínica nas práticas de acompanhamento terapêutico.Ao pesquisar as várias concepções de amizade ao longo da história e na filosofia observamos que autores como Foucault (1981), Sennett (1995) e Arendt (2005 constatam um declínio da importância da amizade como relação política no cotidiano da polis na Grécia antiga, e um processo progressivo de esvaziamento da vida pú-blica e de despolitização das relações sociais. Em contrapartida, ocorre um fortalecimento e expansão da vida privada na contemporaneidade, regulada por um hegemônico modelo familialista determinante dos papéis sociais e suas relações. De acordo com Ortega (2002) este lento processo histórico se deu por vários fatores como a incorporação do amor e da sexualidade no matrimônio, a incidência de um dispositivo biopolítico sobre a família, a "invenção" da infância e da adolescência entre outros.Considerando o familialismo como um determinante histórico e social da caracterização e valoração das relações sociais instituídas, podemos dizer que este modo hegemônico e institucionalizado de conceber as relações sociais muito influenciam as teorias e técnicas psicológi-cas para a compreensão das relações interpessoais e particularmente das relações terapêuticas.Fazer a análise de algumas das relações de poder exercidas na clínica, como é o caso do atravessamento das instituições do familialismo e da normalização nas práticas terapêuticas, constitui-se um dos nossos objetivos neste campo de investigação. É evidente que este objetivo tem tudo a ver com o projeto foucaultiano de análise crítica das instituições disciplinares da psiquiatria, da psicologia e do poder investido no saber médico para a determinação do normal e do patológico (FOU-CAULT, 1979, 1996.Nossa singela contribuição para o projeto foucaultiano de análise crítica das relações de poder no universo psi se refere à construção do que chamaremos de dispositivo 1 amizade-clínica que possa abalar os alicerces das concepções hegemônicas e institucionalizadas do que se entende por uma relação terapêutica e suas vicissitudes e que, além 1 Deleuze (1990) dirá que um dispositivo é como uma rede, uma meada, um conjunto multilinear composto por linhas de forças heterogêneas. Tais linhas não delimitam sistemas homogêneos como objetos, sujeitos, linguagens, etc., mas seguem direções variáveis, traçam processos sempre em desequilíbrio. Desenredar as linhas de um dispositivo é construir um mapa, cartografar os saberes e os poderes que conduzem à (re)produção de modos d...
RESUMOEste artigo é parte de uma pesquisa de mestrado motivada por um acompanhamento terapêutico e por uma questão que surgiu em meio aos encontros: o que se passa entre acompanhado e acompanhante? Tradicionalmente, essa prática é reconhecida por utilizar-se das ruas e saídas, como modo de não ficar restrita ao ambiente físico das instituições ou ao setting tradicional da clínica. Neste trabalho, tendo como referências o pensamento de Deleuze e Guattari, utilizamos a cartografia como método de pesquisa-intervenção, do qual destacaremos aqui alguns fragmentos de relatos e, principalmente, seus enredamentos conceituais, mostrando como ambos se compuseram nos (e partir dos) encontros nos quais acompanhado e acompanhante teceram juntos uma rede de relações contagiando o cotidiano, a vizinhança, o comércio, a informática, os fazeres e os saberes a respeito da clínica. São experimentações, agenciamentos, acontecimentos e derivas que se passam entre acompanhado e acompanhante em intensidades que os arrastam, produzindo outros modos de ver, pensar, sentir e estar no mundo.Palavras-chave: Acompanhamento terapêutico. Clínica. Cartografia. ABSTRACTThis article is part of a master research motivated by a therapeutic follow up and by one question that emerged during the meetings, which is: what Texto recebido em 5 de novembro de 2013 e aprovado para publicação em 16 de outubro de 2014.
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