Resumo: Neste artigo, investigamos possíveis motivações linguísticas para ocorrer hipossegmentações (como "concerteza", "jogalo") em textos escritos por alunos ao longo dos quatro últimos anos do Ensino Fundamental. Assumimos a premissa de que as hipossegmentações são resultados de relações entre fala e escrita nas quais os alunos se baseiam ao produzirem seus textos. Essas relações mobilizam, principalmente, estruturas prosódicas e morfossintáticas, além de informações letradas sobre fronteiras gráficas de palavra escrita. No que diz respeito à abordagem da prosódia, adotamos a perspectiva que a concebe como constitutiva da língua, seja falada ou escrita. Os resultados mostram que: (i) a principal regularidade prosódica é a junção de clítico mais palavra prosódica que o segue, evidenciando que a prosodização de clíticos à direita guia os registros escritos observados; (ii) a regularidade morfossintática predominante é a hipossegmentação de preposições, além de artigos, conjunções, pronomes átonos, evidenciando dificuldades na delimitação de palavras gramaticais como palavras ortográficas independentes. Quanto à distribuição de dados ao longo dos anos letivos, houve aumento de hipossegmentações que envolvem sequência de clíticos monossilábicos no nono ano, resultado que evidencia que a estrutura linguística ainda não é dominada pelos estudantes ao final do Ensino Fundamental.Palavras-chave: Prosódia. Morfossintaxe. Ortografia. Fala. Escrita. Língua portuguesa.
Elementos clíticos em Português Brasileiro (PB) são prosodizados predominantemente à direita de seu hospedeiro. Em textos escritos, alunos do Ensino Fundamental (EF) tendem a grafar clíticos junto a seu hospedeiro, como ‘puraqui’ (‘por aqui’). Essas grafias seriam, pois, motivadas pela prosodização típica dos clíticos no PB. No entanto, encontramos grafias como ‘tenque’ (‘tem que’), em que o clítico está à esquerda do hospedeiro, formando estruturas enclíticas. Identificamos características desse tipo de hipossegmentação em uma amostra de textos produzidos ao longo dos quatro últimos anos do EF. Interpretamos que essas hipossegmentações são efeito de práticas letradas, que prescrevem o uso de ênclise verbal, como ‘pegala’ (‘pegá-la’), e, simultaneamente, efeito de práticas orais em que a ênclise ocorre, como ‘tenque’. Argumentamos que essas últimas hipossegmentações são pistas de que em certas estruturas morfossintáticas e certa configuração rítmica do enunciado a direção da prosodização clíticos é à esquerda.
O objetivo deste trabalho é investigar o papel que os quatro anos do Ensino Fundamental II exercem na variação pronominal entre as formas “nós” e “a gente” e na variação gráfica entre “nós” / “nóis” e “a gente” / “agente” em textos escritos por alunos de uma escola pública estadual do interior de São Paulo. O material utilizado faz parte do Banco de Dados de Escrita do Ensino Fundamental II. Como aparato teórico-analítico, assumimos a heterogeneidade constitutiva da escrita, proposta por Corrêa (1997, 2004), a qual prevê que as relações entre os modos de enunciação falado e escrito e as práticas sociais orais e letradas possuem uma relação de constituição e não de interferências graduais. Por meio dessa teoria, buscamos observar a circulação dos escreventes pelos três eixos de observação da heterogeneidade da escrita, o eixo da representação da gênese da escrita, o eixo da representação do código escrito institucionalizado e o eixo da dialogia com o já falado/escrito e ouvido/lido. Os dados foram analisados estatisticamente, por meio do software R, plataforma gratuita para análise de dados e os resultados sugerem que os quatro anos do Ensino Fundamental II: (i) não têm efeito sobre o uso da forma conservadora ou inovadora; (ii) contribuem para o uso convencional dos pronomes; (iii) contribuem para o uso da grafia “nós”; e (iv) contribuem para o uso da grafia “a gente”. Sobre esses resultados, argumentamos que eles apontam a circulação dos escreventes pelos três eixos, principalmente, pelo eixo do código escrito institucionalizado.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2025 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.