Este artigo analisa os usos dos termos primitivo e primitivismo em diversos textos de Antonio Candido, dos anos 1950 aos anos 1980, em sua relação com os povos indígenas do Brasil. Nesses textos, os termos assumem um caráter polissêmico e instável que será comentado, apresentando reflexões teóricas sobre seu significado para o pensamento do ocidente e para a compreensão da arte moderna. O artigo busca, dessa forma, explicitar pressupostos teóricos e ideológicos que estruturam a obra do crítico e sua concepção ampla da cultura brasileira, em sua relação histórica com os povos indígenas do Brasil.
A tradução parece trazer dificuldades que exigem soluções diversas que, escolhidas contigencialmente, podem ter implicações históricas e políticas duradouras. A tradução da Bíblia por Lutero é um exemplo marcante da força histórica da tradução e das polêmicas quanto à sua forma. Em “A Tarefa do Tradutor”, Benjamin estabelece duas temporalidades distintas para a vida de um texto literário e a de suas traduções, instaurando um debate a respeito dos diferentes tempos históricos que atravessam um texto, em sua relação com as diferentes línguas. A partir dessas considerações, nos propomos a discutir certas dificuldades concretas experienciadas na tradução de citações de uma obra literária dentro de um texto crítico de Benjamin, Am Kamin, um dos textos em que desenvolve sua teoria do romance. Como traduzir hoje as citações que Benjamin faz do romance The old wives tale de Arnold Bennet, citações da tradução para o alemão dos anos 1930, de um texto inglês de 1908 que emula um narrador do início do século XIX, e que não foi ainda traduzido para o português? Por fim, apresento o texto traduzido, “À Lareira”.
Ainda hoje o mito da democracia racial retorna em diversos discursos como forma de ocultar ou subestimar os efeitos do racismo no Brasil. Consolidado na década de 1930, o mito tem firmes bases nos debates intelectuais ocorridos em meio ao modernismo dos anos 1920, e construiu sua hegemonia pela formação de consensos entre distintas, e eventualmente contraditórias, posições políticas e estéticas. Considerando os diálogos estabelecidos com o Verdeamarelismo dentro do modernismo paulista dos 1920 e a presença do racial na Revista de Antropofagia, procuro elucidar a relação destes movimentos literários e culturais com a formação do mito da democracia racial. A análise revela como a antropofagia postula um sujeito transparente e autodeterminado como consequência de um traço cultural de um sujeito, outrossim considerado afetável, indígena, transmutado sincronicamente pela absorção continuada da subjetividade europeia. Constituiria, assim, uma ala liberal da democracia racial.
Parte do projeto do modernismo brasileiro foi a afirmação de uma literatura nacional autêntica no espaço mundial da modernidade estabelecido como conjunto de Estados nacionais. Entretanto, a escrita do texto moderno foi marcada por aquilo que Denise Ferreira da Silva (2007) chama de globalidade, isto é, a atribuição de transparência ao sujeito europeu e de afetabilidade aos seus outros raciais, que ocupavam outros espaços. Essa separação se expressou como uma forma peculiar de angústia de influência em diversos textos literários modernistas que buscavam estabelecer sua autenticidade frente a uma tradição literária ocidental que, por sua vez, não os reconhecia. Neste artigo, proponho uma leitura de diferentes manifestações dessa angústia de influência e separação em alguns célebres poemas modernistas publicados originalmente na Revista de Antropofagia por Murilo Mendes, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Oswald de Andrade.
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