Diante das polêmicas do cinquentenário do Golpe de 1964, os organizadores do livro procuraram manter uma prudente distância das disputas políticas na representação do evento e da ditadura, tendo o cuidado de "preservar a pluralidade de opiniões e evitar quaisquer dogmatismo" (p. 9). Ademais, a obra serve como instrumento de educação e divulgação científi-ca, uma vez que muitos cidadãos não conhecem o passado recente do Brasil.Para refletir sobre o que mudou no país, vários autores fazem uma apreciação sobre o que foi a modernização conservadora no período ditatorial. Essa noção foi discutida em vários artigos da coletânea, sendo uma apropriação que a historiografia brasileira fez de um conceito da sociologia histórica. Inicialmente usado por Barrington Moore Jr., em Origens da ditadura e democracia (1983), o conceito tinha em vista a análise do longo processo de mudança social, observando o papel das estruturas agrárias na conformação de um novo pacto político na modernização, na passagem das sociedades pré-industriais para industriais. Sendo uma análise em perspectiva comparada, Moore Jr. analisou as diferenças da formação do capitalismo na Inglaterra, França, Estados Unidos, Alemanha e Japão. Os dois últimos países, diferentes dos três primeiros, teriam como característica a modernização autoritária: a constituição de um pacto entre uma fração das classes médias e industriais com as elites agrárias na articulação de uma transformação social caracterizada pela negação dos direitos civis e ascensão de regimes ditatoriais.A marca da modernização conservadora é a construção de uma sociedade capitalista em que os valores democráticos eram colocados em segundo plano. Como salientou Renato Ortiz, "a ideia de modernização conservadora se aplicaria no Brasil à emergência da modernidade como um todo, abarcando diversos períodos de nossa formação histórica, da Primeira República ao Estado Novo" (p. 114). Ainda que Ortiz e outros autores da coletânea indiquem a apropriação do conceito para explicar contextos históricos diferentes da ditadura militar, os artigos não realizaram uma interpretação da forma como a noção de modernização conservadora foi apropriada pela historiografia do Brasil República. Essa talvez seja a limitação de uma obra de coletânea, em que cada autor, num espaço delimitado, tenta apresentar uma parte de 445 Samuel Silva Rodrigues de Oliveira Resenha rev. hist. (São Paulo), n. 171, p. 443-453, jul.-dez., 2014 http://dx