Este livro tem como objeto de análise os processos do reassentamento de refugiados palestinos no Brasil. Sua discussão, no entanto, não se centra apenas nos refugiados, nem toma tal grupo como uma “comunidade” em um “lugar eterno” (MALKKI, 1995, p. 1). O foco recai sobre o conjunto de processos e relações por meio do qual o reassentamento foi negociado entre vários atores envolvidos, desde o campo de refugiados Ruweished até o término do programa no Brasil, e também durante os seis meses após sua finalização. A discussão de tais processos traz à tona o repertório de representações, valores, categorias, práticas de gestão e agências que os orientaram, bem como as contradições entre seus pressupostos e sua efetivação. Permite, além disso, destacar as várias dimensões (local, nacional, inter e transnacional) que perpassam o reassentamento destes palestinos. Ao longo dos capítulos, assim, tenho como objetivo discutir como os palestinos foram diferentemente (con)formados e ao mesmo tempo agiram nos contextos pelos quais passaram. Para isso, reflito tanto sobre as práticas que os tornam governáveis através de tecnologias de controle, normalização e modelagem de suas condutas (FOUCAULT, 2004, 2009), como sua agência diante deste regime de poder/conhecimento no qual são conformados. Considerando que, no contexto brasileiro, um ponto central do reassentamento foi o alcance da “integração” dos refugiados, observo tanto as tecnologias de produção de sujeitos integrados pelas instituições e grupos que interagiram com os refugiados, quanto as próprias formas como eles lidaram com esta “integração” (apropriando-se, criticando e/ou subvertendo-a).