A partir de pesquisa na zona rural do norte de Minas Gerais, este artigo examina a conexão entre a territorialização imposta pela modernização no sertão e as condições de envelhecimento de seus habitantes, na intenção de analisar criticamente a descartabilidade da pessoa idosa no mundo contemporâneo. Baseando-se em pesquisas de campo, entrevistas e análise bibliográfica entremeadas pela leitura de Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, discute-se como se dá o envelhecimento em territórios marginalizados pelo movimento econômico, resgatando pela memória dos entrevistados a historicidade sertaneja e suas sociabilidades como forma de resistência, colapso ou adaptação à homogeneização econômica. Como resultado, foram apresentados modos particulares de existência e de percepção do sertão, induzindo à urgência de outro tratamento à pessoa idosa, integrando-a aos debates e projetos que vislumbram uma sociedade mais generosa com os seus velhos.
Este artigo analisa, sob a égide marxista do teorema da crítica do valor-dissociação proposto por Roswitha Scholz, a participação de uma geração específica de mulheres expropriadas na territorialização da Serra do Cabral, ao norte de Minas Gerais, ao longo do século XX. Expropriadas tanto no garimpo de diamantes e na fazenda pecuária, bases daquele processo de ocupação e formação regional, quanto na posterior silvicultura, que introduziu relações de trabalho modernas com vias à abertura da região sob o discurso de modernização econômica. Com o suporte de entrevistas e pesquisas de campo, apresenta-se a dissociação do valor não restrita à questão de gênero, mas também conectada à cor, dada a condição periférica de um país de recente passado escravista. Com isso, o presente trabalho expõe o sertão norte mineiro, desde o século XVII, no prelúdio de sua territorialização, como uma particularidade da abrangência da sociabilidade moderna capitalista, habitado por mulheres historicamente imiscuídas no processo de produção, seja na reprodução da família, na produção de excedente e no acesso à liberdade negativa.
Trata a relação entre a geografia e a literatura de João Guimarães Rosa. A partir da leitura de seus contos, confrontados com estudos de materialismo histórico que abordam criticamente a territorialização do País, discute-se como a concepção do autor sobre o sertão pode contribuir para um debate geográfico de viés crítico, de maneira a enquadrá-lo entre os pensadores intérpretes do Brasil e seu sentido de formação. Como resultado, compreende-se que sua literatura não só aproximou as duas esferas de conhecimento, como também apresentou as visões de Brasil e de sua constituição dentro dos impasses contextuais de se projetar o país. A contribuição de João Guimarães Rosa para se pensar o sertão como território imbuído de contradições seria um dos grandes legados de todo o conjunto da obra do autor.
Nome: PELISSARO, Suelen Rosa. O sertão e suas metamorfoses em Sagarana e Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Geografia.
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