Por pertencer a uma prática cultural, a adaptação de um romance para um longa-metragem sempre existirá dentro de um contexto e, ao ser passível de mudanças, modificações correspondentes no âmbito político e até mesmo no significado da história podem ocorrer. Parece ser exatamente esse o resultado da transformação do segundo romance de Angela Carter, The Magic Toyshop, para a narrativa fílmica homônima, dirigida pelo diretor David Wheatley em 1987. Afastada do contexto de produção e publicação, época crucial de questionamentos com relação à importância da mulher na sociedade e na cultura, a trama criada pela autora inglesa nos anos 1960, reescrita duas décadas depois, tendo a própria autora como roteirista, parece ter adquirido outra significação. Embora o filme mantenha o mesmo enredo da obra, o engajamento político visivelmente presente no romance, a saber, a postura crítica de Carter ao modelo de sociedade patriarcal, parece perder sua força, tendo agora como destaque o caráter fantástico. Discutindo brevemente questões como fidelidade e traição de um gênero a outro, busca-se, neste trabalho, observar, tendo como base a perspectiva dos reescritores, ou seja, do diretor e da própria autora enquanto roteirista, a narrativa imagética como um processo de recriação. Neste diálogo, o roteiro também foi utilizado como intertexto para melhor compreensão de tal processo.
A autora Angela Carter teve uma extensa produção literária que conta ao todo com nove romances, quatro coleções de contos, histórias infantis, peças para rádio, trabalhos com poesia e televisão. Entre o final dos anos 60 e o início da década de 70, ela se estabeleceu também no campo da não-ficção, destacando-se por seus textos jornalísticos, escritos durante o período em que viveu no Japão, trabalhando como correspondente para a revista New Society. Seu papel de observadora cultural encontrou seu meio mais profícuo: Carter discorre em seus artigos sobre os mais diversos assuntos, que vão desde música, arte e literatura até mudanças econômicas e sociais, reunidos na coletânea Shaking a Leg: Journalism and Writing (1997). Este artigo busca estudar alguns desses textos produzidos por Angela Carter, bem como discutir como eles podem contribuir para análise de suas narrativas, criando um liame entre ficção e o contexto de criação das obras.
RESUMO. Considerando a importância das significações nas obras literárias, este trabalho propõe um estudo comparativo da imagem da casa de bonecas na peça Casa de Bonecas (1879), de Henrik Ibsen, e no conto "The Doll's House", publicado no livro The Dove's Nest (1923), de Katherine Mansfield, tendo como base a teoria de Gaston Bachelard e Jean Baudrillard. Em ambos os casos, percebe-se que a presença dessa imagem indica não apenas a construção do ambiente dessas obras, mas também uma crítica ao modelo burguês de sociedade aparentemente perfeita, sem falhas, como remete a própria imagem descrita. Entretanto, pode-se considerar que a imagem, embora partilhe a mesma ideia em ambas as obras, é explorada diferentemente em cada caso, seja pela luta da personagem Nora em escapar da conformidade social em Ibsen, seja pela sutil brincadeira de criança vivenciada pelas irmãs Kelvey, em Mansfield.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.