Estabelecer aqui uma linha de fuga Deleuze-Guattariana entre o movimento feminista do século XX, e a arte contemporânea brasileira das décadas de 60 e 70, é preencher uma lacuna teórica de quase quatro décadas, e que apenas recentemente vem sendo sanada por iniciativas acadêmicas de pesquisa histórica. Além do mais, é uma das diversas possibilidades de abordar parte da produção de artistas como Regina Vater, Wanda Pimental e Anna Maria Maiolino, que tiveram seu período de formação e fomentação artística justamente nessa época turbulenta e confusa, não apenas na área das relações subjetivas, mas também (principalmente) política.
As narrativas já institucionalizadas sobre o movimento concretista no Brasil e suas reverberações abrangem referências internacionais para os artistas integrantes do movimento, e os conflitos de hegemonia cultural entre os dois polos econômicos do país na época: Rio de Janeiro e São Paulo. A considerável produção analítica sobre o período e seus agentes tem sido uma das mais férteis dentro da historiografia da arte brasileira, abarcando críticos, manifestos, obras, artistas e locais de circulação – e no entanto, apenas recentemente alguns pesquisadores e curadores têm apontado o caráter machista de alguns membros dos grupos, e as dificuldade de consolidação profissional das artistas mulheres que participavam dos projetos e reuniões. Nesse sentido, Judith Lauand, a única artista mulher a participar oficialmente do grupo Ruptura em São Paulo, é caso emblemático dos movimentos de revisionismo histórico feminista, mas junto a ela temos também Jandyra Waters ocupando um lugar ainda frágil no sistema, sem o devido cotejamento. Ainda que essas duas artistas tenham tido uma circulação considerável no meio artístico brasileiro, sua recepção crítica e inserção histórica não é a mesma de seus pares masculino, portanto, são casos que precisam ser revisitados a fim de esgarçar a malha historiográfica.
É possível verificar que já há cerca de seis/sete anos no Brasil vive-se uma febre midiática do feminismo em sua multiplicidade de abordagens e agendas. Especificadamente no campo da cultura, ou melhor, no sistema das artes, esse período proporcionou uma onda de exposições em artes visuais, de pequeno a grande porte, em grandes centros artísticos e territórios periféricos, que seguem desde o aporte fragmentado da exposição francesa Elles, do acervo do Centro Georges Pompidou, passando pela itinerância de Mulheres Radicais na Pinacoteca do Estado de São Paulo, até a mais recente empreitada do Museu de Arte de São Paulo com Histórias Feministas. Tomando tais manifestações, e os estudos locais e recentes de história da arte, crítica e feminismos e gênero nas artes, procuro aqui estabelecer algumas linhas de forças dessas negociações narrativas curatoriais, e alguns paradoxos aparentemente indissolúveis que tais mostras levantam.
No âmbito dos estudos feministas, a complexa relação das mulheres com as dinâmicas e espaços de poder tem sido pauta da agenda do movimento político desde seus primórdios, seja pela demanda de participação no jogo democrático, passando pelo exercício profissional em postos de impacto econômico e simbólico, até a capacidade de elaboração discursiva nos processos epistemológicos. Considerando aqui, entretanto, a complexidade, senão a impossibilidade em delimitar a categoria mulher, ainda que considerando também suas variantes linguísticas e matéricas, fato é que, mesmo com mais de um século de existência das ações do movimento feminista, em praticamente todos os setores laborais de significância política e econômica há baixa representação feminina, seja como agentes ou como problemáticas (assim como há irrisória presença de sujeitos racializados e de dissidência de gênero).
Nesse ensaio confessional, a artista afro-americana Howardena Pindell rememora alguns epis�dios de racismo em sua trajet�ria profissional como artista e curadora, al�m de oferecer alguns conselhos profissionais para jovens artistas negros, a fim de escapar de rela��es abusivas de trabalho, golpes e demais�problemas existentes no sistema das artes.Palavras-chave:Ensaio de artista. Sistema das artes. Conselhos.�AbstractIn this confessional essay, the African-American artist Howardena Pindell recalls�some episodes of racism in her professional trajectory as an artist and curator, as well as offering some professional advice to young black artists, in order to escape from abusive work relationships, scams and other problems existing in the arts system.Keywords:Artist essay. Art system. Advice.
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