ResumoO artigo revisa a literatura sobre a produção narrativa de crianças e adultos idosos, focalizando estudos intergeracionais. Demonstra a importância das histórias para o desenvolvimento infantil, e o papel do interlocutor neste contexto. Situa o adulto idoso como um interlocutor privilegiado, apresentando estudos que mostram o narrar como uma atividade fundamental nesta etapa da vida. O contato entre crianças e pessoas idosas tem sido promovido e estudado principalmente para verificar e modificar a percepção de um grupo sobre o outro. Parece, entretanto, prevalecer uma proposta altruísta, ao invés da concepção de uma interação proveitosa para ambos. O artigo enfatiza a relevância de alguns programas que valorizam e promovem a habilidade dos idosos em contar histórias para crianças, discutindo iniciativas brasileiras nesta área. Palavras-chave: Narrativa intergeracional; envelhecimento; crianças.
AbstractThis article reviews studies on the narrative production of children and senior adults, focusing on intergenerational studies. Demonstrates the relevance of storytelling in child development and the adult's role in this context. Situates senior adults as privileged interlocutors for children, presenting studies that demonstrate narrating as a fundamental activity in this stage of life. The interaction between children and senior adults has been studied to verify and change the perception of one group upon the other. However, the altruistic proposal seems to prevail, instead of an interactionist conception that would make the most for both. There seems to be, however, a tendency for intergenerational programs to emphasize an altruistic perspective instead of an interactionist one that would be to the advantage for both. This paper emphasizes the relevance of some intergenerational programs that value and promote the aptitude of storytelling in senior adults, discussing Brazilian initiatives in this area. Keywords: Intergenerational narratives; aging; children.
Narrativas IntergeracionaisA imagem de um velho contando histórias de outros tempos aos mais jovens, à beira do fogo ou ao sabor do ritmo de uma cadeira de balanço, contrasta fortemente com o andamento e as exigências de velocidade, eficiência, racionalidade e produtividade de uma sociedade urbanizada, soando como algo romântico e saudosista. Neste contexto, tanto crianças como pessoas idosas tendem a ficar à margem de onde a "vida acontece", e o espaço para contar e ouvir histórias vai se restringindo à disponibilidade circunstancial de um interlocutor ou a instituições que atendem separadamente cada faixa etária. As crianças, escutando histórias escolhidas e lidas por seus professores, e os idosos, tentando contar suas histórias de vida a quem tenha paciência para ouvi-las, são imagens mais realísticas no panorama do mundo contemporâneo.O objetivo deste artigo é apresentar ao leitor uma perspectiva abrangente da narrativa na Psicologia, focalizando estudos sobre a narrativa intergeracional. Partindo de diferentes correntes de estudo sobre a narrativa ...