Esta pesquisa assumiu o propósito de verificar a situação às quais são submetidas as mulheres indígenas que saem de suas comunidades tradicionais para se inserirem no trabalho doméstico em Manaus. Buscamos também reconstruir fragmentos da história de vida e de trabalho de duas mulheres Sateré-Mawé, dona Zenilda e Zeila (Kutera), que se deslocaram de sua comunidade étnica de origem em busca de educação formal, saúde ou renda em Manaus, durante o período de instalação da Zona Franca. Diante da falta de oportunidades de trabalho formal, elas se inseriram no trabalho doméstico. Mesmo assim, podemos verificar pelas suas trajetórias de vida, que elas tornaram-se duas lideranças femininas de grande projeção dentro do movimento indígena. As questões norteadoras desta pesquisa consistiram em verificar quais são as determinações étnicas e de gênero presentes no trabalho domestico em Manaus, capital do Estado do Amazonas. Adotamos uma metodologia que nos levou a considerar os aspectos qualitativo e exploratório, quando a fala dos sujeitos foi imprescindível para a reconstrução de aspectos da trajetória de vida e de trabalho das mulheres da etnia Sateré- Mawé. Foram realizadas entrevistas abertas com cinco mulheres da etnia Sateré-Mawé, além da observação direta na Comunidade I nhã-bé, durante o período de abril de 2009 a agosto de 2010. Elegemos um referencial teórico que problematiza as questões de gênero que são determinantes na situação desfavorável que se encontra esse segmento humano. O conceito de gênero é empregado como uma categoria construída social e culturalmente, que envolve relações de poder sob os auspícios do patriarcado. A pesquisa mostra que há uma forte ressignificação na vida dessas mulheres que se deslocaram para a cidade, as quais vivem no limiar do urbano e do rural. Conclui-se, assim, que para muitas mulheres do interior amazônico o trabalho doméstico passa a ser o caminho para chegar às cidades. Essa situação as envolve numa teia de exploração permeada por questões de gênero sob o forte preconceito étnico.
Em seus 4 anos de existência, a REVES nunca se furtou à reflexão, de modo crítico, interdisciplinar e plural, abrindo suas várias edições ao debate da educação, da política, da diversidade cultural e sexual, da filosofia, da sociologia, das humanidades, das engenharias etc., por entender que os diferentes saberes são fundamentais ao desvelamento e à transformação da realidade social, política e econômica do país. Na edição nº 1, do volume 4, traz um conjunto de 16 artigos com discussões sobre pandemia, educação, estratégias pedagógicas, controle social, democracia, filosofia e engenharia ambiental. Nesse sentido, convidamos os leitores a fazerem um passeio epistemológico nesta edição. Boa leitura!
Neste número, a Revista de Relações Sociais – REVES propõe contribuir para o debate em torno a temática “gênero e sexualidade em debates: dissidências e resistências” para ampliar a compreensão sobre os diversos universos sociais que são atravessados pelas relações de gênero.
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