O meu propósito, neste trabalho, é o de estabelecer um paralelo entre a literatura e a ideia da originalidade, pelo viés da tradução. Para tal fim, analiso o conto ‘O tradutor cleptomaníaco’ (2016), do escritor austro-húngaro Dezso Kosztolányi. De modo a amparar a minha análise literária do conto supracitado, trago reflexões pontuais de Jorge Luis Borges em nove de seus pequenos contos e ensaios publicados nas coletâneas: História universal da infâmia (1982), Outras inquisições (2007), Ficções (2007), O Aleph (2008) e ‘O livro de areia’ (2009). Além desses livros, trago também o conto ‘A memória do mundo’ (2007), de Italo Calvino. O ingrediente comum que justifica a seleção de tais fontes, e que conduz uma discussão sobre a tarefa do tradutor, se refere à memória, à gênese e ao (re)nascimento. Tendo, além disso, o conceito de mito da origem como fio ontológico que interliga esses textos, analiso se e como ‘O tradutor cleptomaníaco’ (Kosztolányi, 2016) pode contribuir para essa reflexão acerca da originalidade. Os resultados finais de minha análise apontam na direção de um conceito de tradução que, essencialmente, implica uma redução necessária – uma condensação do sentido dentro daquele sentido formado pela decodificação particular do leitor tradutor.