A cidade de São Paulo e seus rios: uma história repleta de paradoxos

Abstract

O presente artigo consiste em um breve relato histórico da relação da cidade de São Paulo com seus rios, córregos e riachos em quatro momentos distintos: da fundação da Villa de São Paulo dos Campos de Piratininga em 1554 até o terceiro quartel do século XIX; do final do século XIX até 1930 (Metrópole do Café); de 1930 até 1950 (Metrópole Industrial) e, de 1950 quando se inicia o processo de conurbação que dá origem à Região Metropolitana de São Paulo, até os dias atuais (A Megalópole). A pesquisa, apoiada na historiografia e na iconografia, aponta a importância da rica rede fluvial para a fundação e estabelecimento da cidade e demonstra como, ao longo do tempo e à medida que a cidade cresceu, esses recursos hídricos foram sendo deteriorados e passaram a ser vistos como obstáculos ao crescimento urbano, tornando-se alvo de intervenções e transformações. Tais intervenções implicaram na supressão dos rios da paisagem urbana da cidade de São Paulo.

Urban Parks: from romanticizing to sanitation – from theory to reality

“…Entretanto, no meio urbano essas áreas foram altamente adensadas, como evidenciase na cidade de São Paulo, de acordo com Gouveia (2016) entre 1926 à 1930 iniciou-se a implantação do "Plano das Avenidas" proposto pelo engenheiro Prestes Maia, devido aos interesses do setor imobiliário e do setor automobilístico; as áreas de fundo de vale foram ocupadas por extensas avenidas, inseridas no leito maior ou acima do rio após sua retificação e canalização, e as áreas periféricas foram ocupadas de forma irregular, onde "a clandestinidade transforma-se em extralegalidade [...] para ser reconhecida e assim, ganhar o estatuto legal, necessário para ser contemplada pelo atendimento público (GOUVEIA, 2016, s/p)", e assim encontram-se até hoje.…”

Rios, ruas e redes

“…Voltando a meados do século XVIII, observaremos que, nessa época, foram construídos os primeiros condutos de derivação de água na cidade com base nos quais se deu início ao processo de abastecimento de água canalizada, com chafarizes públicos, bicas, fontes e tanques (BRUNO, 1991;GOUVEIA, 2016). Porém, ao contrário dos primeiros séculos de colonização, nos quais a água em São Paulo era descrita como "abundante e salutífera" (SAMPAIO, 1897 1 apud BRUNO, 1991, p. 41), observou-se nesse período um significativo declínio na qualidade e na disponibilidade de água na cidade.…”

Dos desafios aquáticos ao estabelecimento de recordes: aproximação e distanciamento entre práticas esportivas e os rios da cidade de São Paulo (1899-1949)

“…Esses rios eram responsáveis, sobretudo, pelo fornecimento de água às casas e às fábricas desde a instalação das primeiras habitações em seu entorno. Entretanto, Gouveia (2016) afirma que, em meados do século XIX, a "providência divina" já não era mais suficiente para a manutenção do abastecimento de água a todos os moradores locais. Os anos que se seguiram marcaram mudanças profundas no curso dos rios aqui estudados, na tentativa de produzir energia, impedir as inundações e afastar a iminente poluição (Jorge, 2006).…”