O tripé neoliberalismo, financeirização e dataficação, resultado de transformações observadas nas últimas décadas, caracteriza o contexto perfeito para a emergência de um novo modelo empresarial: as plataformas de trabalho. Elas não se consideram empregadoras, mas apenas mediadoras de serviços entre autônomos/as e consumidores/as que se conectam através delas. Entretanto, são as plataformas que definem todas as condições de trabalho, culminando na subordinação dos/as trabalhadores/as. As plataformas têm se espraiado por diferentes setores da economia desde que emergiram, consolidando governanças e relações de trabalho com suas especificidades. A presente pesquisa analisa um desses setores, tendo como foco quatro plataformas de transporte na cidade de Juiz de Fora/MG: Uber, 99App, Livre e Para Elas Mobilidade. Buscou-se evidenciar que, assim como as plataformas variam a depender do setor no qual se inserem, as experiências e percepções dos/as trabalhadores/as também possuem especificidades, neste caso, generificadas. Para tanto, foi realizada uma netnografia em grupo de WhatsApp no qual há apenas condutoras da cidade. Ademais, foram realizadas entrevistas semiestruturadas para abarcar questões que não puderam ser desenvolvidas em profundidade através do grupo. Como resultados, verificou-se que as trabalhadoras enfrentam as problemáticas já apontadas sobre o trabalho plataformizado em outras pesquisas – baixas taxas, longas jornadas, subordinação às plataformas, dentre outras –, mas também questões em que o gênero da trabalhadora é determinante: assédio moral e sexual, extensão das jornadas devido aos trabalhos reprodutivo e de cuidado, e cooptação por parte das plataformas, que se apropriam de termos associados a movimentos sociais e políticos de mulheres e outras minorias sociais para atrair mais trabalhadoras. Identifica-se, portanto, que também a precarização do trabalho intensificada pela plataformização reproduz uma divisão sexual desigual.