O trabalho como determinante do processo saúde-doença Uma vivência do trabalho no contexto atualEste artigo se inicia com o relato de uma trabalhadora do setor bancário que está em licença para tratamento de saúde há dois anos e cinco meses 1 . Paula sempre quis ser superintendente e, para isso, investiu muito em sua formação. A bancária realizou cursos de marketing na Escola Superior de Propaganda e Marketing (espm), de recursos humanos no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), de especialização na área de finanças na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e de pós-graduação em gestão empresarial na Fundação Getúlio Vargas (fgv). Praticamente todos eles foram financiados pela trabalhadora, e, sempre que ela acabava um curso, o seu coordenador lhe dizia: "Ótimo, qual será o próximo?".No seu trabalho, cada vez que ela conseguia alcançar um bom resultado em uma agência, seu chefe a mandava para outra agência, considerada problemática, para torná-la rentável e com resultados positivos. Além disso, Paula relata que tinha um número cada vez maior de clientes. Pouco antes da sua licença, era responsável pela folha de pagamento de 267 grandes empresas, além de gerenciar cerca de quatrocentos funcionários, sendo 72 gerentes diretos; ou seja, ela era a responsável por qualquer problema com um desses clientes e/ou trabalhadores. Como "reconhecimento" pelo seu bom trabalho, mediante o alcance das metas, ganhava cada vez mais clientes em mais estados para administrar, não tendo Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 27, n. 1 74 mais tempo "para sequer almoçar, nem responder e-mails". Muito menos para sua família e amigos. Foi quando deslocaram Paula para trabalhar no Rio Janeiro, na época da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (upps). O motorista que a acompanhava até o trabalho várias vezes ia à frente, para ver se era possível entrar nas agências em que ela trabalhava, localizadas nos morros do Jacaré, Macaco e Borel. Paula, ao voltar para o hotel em que se hospedava, estava esgotada e ainda tinha todos os e-mails do dia para responder, somar a produção diária, cobrar os que deixaram de fazer, entre outras pendências.Ela se sentia muito cansada, com fadiga, dores de cabeça, no ombro, tontura e "vontade de sumir", confessando ter desejado se jogar do 27 o andar do luxuoso hotel Othon. Mas queria se mostrar firme e precisava atingir a meta, ou seria humilhada na reunião semanal do banco. "Eu alcançava todas as metas impostas, sei que consegui fazer muito resultado para o banco. Mas também foi assim que o banco foi tirando as horas da minha vida e da minha família. Eu não tinha mais tempo para nada. Fui sentindo que minha energia estava acabando".Cansada de tudo e não vendo mais saída, Paula tirou licença para realizar uma cirurgia da bexiga, que já era solicitada por seu médico há três anos e, por conta da carga de trabalho, não conseguira fazer. Quando se afastou para realizar o procedimento cirúrgico, a bancária passou a ser atendida apenas pelo departamento de recursos humanos do b...
Dedico este trabalho a nós, a vocês, a todos que lutam para transformar essa sociedade Trabalhem, trabalhem, proletários, para aumentar a riqueza social e suas misérias individuais, trabalhem, trabalhem para que, ficando mais pobres, tenham mais razão para trabalhar e tornarem-se miseráveis. Essa é a lei inexorável da produção capitalista.Paul Lafargue, "O Direito à Preguiça" AGRADECIMENTOSA construção dessa tese envolveu muitas e por vezes longas discussões com pessoas muito especiais, às quais agradeço pelo empenho e dedicação. Cada uma, a seu modo e a seu tempo, participou desse processo.Foram elas: Adenor, Adriana, Ailton, Alécio, Alemão, Alfredo, Ana Lúcia, Ana Paula, André, Andréa, Ângela, Annick, Antônio, Barbosa, Bessin, Bigodinho, Carlos Oliveira, Carolina, Cássio, Catherine, Cédric, Célia, Coutrot, Cristiane, Éder, Edilene, Elaine, Elder, Eliana, Elson, Estela, Fá-bio, Feliciano, Flávia, Flávio, Freyssinet, Gasola, Geovaldo, Gerson, Gilberto, Gilles, Gisele, Gláucia, Gui, Guilherme, Helena, Hélène, Heleno, Helinho, Heloisa, Inês, Joana, Jorge, José Egito, José Gomes, José Renato, José, Kika, Lallement, Letícia, Linhart, Lúcia, Luciano, Lucio, Lucivaldo, Luis Paulo, Luizão, Magali, Manuel, Marcelo Donizete, Márcia, Márcio, Maria Helena, Mário, Marlene, Melão, Michele, Mônica, Murilo, Nadya, Nelson, Nenê, Odilei, Osmar, Paulo Aviro, Paulo Roberto, Pedro Lourenço, Reinaldo, Roberto, Rogério, Ronaldo, Rosi, San, Sérgio, Sidnei, Sirlei, Sonia, Suzanna, Tais, Tatiana, Téo, Thoemmes, Valéria, Vera, Vicente,Vivian, Viviane, Wagner,Walter, Zarifian Além das pessoas carinhosamente citadas acima, gostaria de dirigir uma palavra a mais a outras que, por motivos diferentes, me acompanharam mais de perto nesta jornada.À Helena e, sobretudo, à Nadya, que foram mais do que orientadoras. São pessoas maravilhosas com as quais tive o maior prazer em conviver e que estiveram o tempo todo ao meu lado.Ao Lucio, meu companheiro que conheci justamente no início da construção desta tese, e que, desde então, vem me ajudando, incentivando e amando.À minha mãe que esteve sempre ao meu lado, de uma forma ou de outra: uma palavra, um incentivo, uma comidinha deliciosa, um carinho.Ao meu pai e meu avô (in memoriam) que, apesar de ausentes fisicamente, estiveram mais próximos do que nunca.Algumas instituições, igualmente, foram fundamentais para a realização do meu doutorado: o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese), o Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo, a Universidade Paris 8, o Laboratório Genre, Travail, Mobilités (GTM), e a Maison du Brèsil. RESUMOEsta tese é um estudo das vivências cotidianas de trabalhadores em relação ao tempo de trabalho e ao tempo de não trabalho. O locus de análise privilegiado é o espaço do local de trabalho. A pesquisa tomou como caso para estudo a Volkswagen do Brasil, em sua unidade de produção do ABC-São Paulo, exemplo emblemático de iniciativas e negociações ...
Esta pesquisa teve o objetivo de identificar os impactos da pandemia da COVID-19 nas condições de trabalho dos entregadores via plataforma digital. Participaram 298 trabalhadores em 29 cidades, que responderam questionário on-line por meio da ferramenta Google Forms. Para a disseminação do questionário foi utilizado o método “bola de neve”, em que integrantes de diferentes redes sociais respondem ao questionário e o encaminham para outras redes. Os resultados revelados apontam para a manutenção de longos tempos de trabalho, associado à queda da remuneração desses trabalhadores que hoje arriscam sua saúde e a de suas famílias, no desempenho de um serviço essencial para a população brasileira, ao contribuírem para a implementação e a manutenção do isolamento social no contexto da pandemia. Em relação às medidas de proteção, os trabalhadores as vêm tomando e as custeando por conta própria. A grande maioria dos entrevistados afirmou adotar uma ou mais medidas de proteção na execução de seu trabalho, enquanto as medidas adotadas pelas empresas concentram-se na prestação de orientações.
Resumo: O artigo aborda as transformações sofridas pelo tempo de trabalho nas últi-mas décadas, considerando suas três dimensões: duração, flexibilidade e intensidade. As duas primeiras, concretas e mensuráveis e, portanto, mais visíveis para a sociedade, são frequentemente discutidas, negociadas e legisladas. Menos evidente, por outro lado, é a dimensão da intensidade, foco deste estudo. Num contexto em que os diversos aparatos organizacionais e de gestão têm como objetivo e consequência a intensificação do tempo de trabalho, trazer essa questão para o centro do debate é de fundamental importância para a compreensão do trabalho. Para isso, o estudo se apoia em análise bibliográfica articulada aos resultados da Enquete Europeia sobre Condições de Trabalho e tem, como ponto de partida, a reflexão sobre questões como: o que significa intensidade? Como ela se manifesta? Quais são suas causas e determinações? Quais são suas consequências? Por que está praticamente ausente do debate? Palavras-chave: Tempo de Trabalho, Organização do Trabalho, Intensificação, Jornada, Saúde. IntroduçãoO presente artigo 2 trata do tempo de trabalho e seu forte processo de transformação a partir dos anos 1980. O efeito mais perceptível desse movimento está na flexibilização do tempo de trabalho, com a implantação de novas formas de compensação da jornada e do aumento dos chamados tempos atípicos de trabalho. A fragmentação e individualização dos tempos de trabalho levam ao surgimento de uma pluralidade de novos tempos laborais, que se colocam, cada vez mais, em total assincronia com os outros tempos sociais -como o da família, do descanso, do lazer, da educação, etc. Menos visível, por sua vez, é o aprofundamento do processo de intensificação do tempo de trabalho, sobretudo a partir dos anos 1980 e 1990, quando se difundem novas mudanças tecnológicas, organizacionais e de gestão, que se somam às antigas manifestações (BOISARD et al, 2002). Em meio a essa profunda transformação, cuja compreensão permanece um grande desafio, a questão que se coloca é "Para onde vai o tempo de trabalho?"A partir dessa indagação discutirei as atuais configurações do tempo de trabalho, considerando suas três dimensões: duração, distribuição -que inclui a flexibilidade -e intensidade (DAL ROSSO, 1996). Analisarei a relação entre tais Recebido: 09.04.12 Aprovado: 16.03.13
Resumo Este artigo visa contribuir para as reflexões sobre a construção de uma pesquisa nacional, no Brasil, que aborde a relação entre trabalho e saúde dos trabalhadores. Uma pesquisa que produza conhecimentos para subsidiar as ações dos atores sociais nos seus diferentes espaços, como o da negociação coletiva e da construção de políticas públicas, e sobre os determinantes do processo saúde-doença, dado que, se a sociedade tiver como objetivo resolver o problema do sofrimento, do adoecimento e dos acidentes vinculados ao trabalho, não será possível manter o foco apenas nas consequências desses eventos, sendo necessário também atuar sobre suas causas. Para realizar tal reflexão, será utilizado a European Working Conditions Survey (EWCS), aplicada nos países da União Europeia (UE) desde 1990, que traz informações sobre como as diferentes dimensões do trabalho vêm impactando a saúde dos trabalhadores, servindo como importante referência para a elaboração de políticas públicas objetivando melhoria das condições de vida e trabalho dos trabalhadores europeus.
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