“A gente acostuma os olhos”: pescadores artesanais de tarrafa e botos-de-Lahille nas paisagens da Barra do Rio Tramandaí

Abstract

Enquanto unidade que dialoga com a ideia geográfica de espaço ou território, a paisagem é um conceito multifacetado que nos auxilia no entendimento das interações entre distintos grupos animais e das expressões culturais humanas. Estudos das relações entre pessoas e natureza atuam como instrumentos de compreensão das afetividades e percepções que envolvem complexas teias de relações, o que nos possibilita encontrar nexos relacionais entre humanos e não humanos para pensarmos numa unidade dinâmica a partir de ambos. No Sul do Brasil, ocorre uma peculiar interação entre humanos e não humanos: a pesca cooperativa. Prática ritualizada e tradicional que consagra a Barra de Tramandaí como uma das duas localidades mundiais onde sistematicamente esse fenômeno acontece. Os botos Tursiops gephyreus e pescadores artesanais de tarrafa cooperam na pesca. O boto sinaliza o momento apropriado para os pescadores jogarem suas tarrafas na água, o que otimiza a atividade de pesca e a energia despendida por ambos. A área de estudo localiza-se na “Barra”, um estuário no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. O artigo propõe um diálogo entre disciplinas distintas: reunindo os campos biológico e antropológico, através da inquirição de como se dá a cooperação entre cetáceo e ser humano, analisando como os pescadores praticam as paisagens em que estão inseridos. A coleta de dados aliou a observação participante junto aos pescadores a um questionário livre semiestruturado Através de análise qualitativa dos resultados, podemos inferir que as manifestações bioculturais presentes nas vivências dos pescadores se dão em como eles observam, sentem e leem a paisagem. São experiências portadoras de significados, em que leituras individuais de cada pescador sobre o contexto praticado ressoam transformando-se num conhecimento coletivo e compartilhado, pois entre os pescadores é visto como um domínio de códigos, quanto à interação com os botos e o relato das mesmas dificuldades de manutenção desse fenômeno interespécies.

Safeguarding human–wildlife cooperation

“…Components of human–wildlife cooperation often form a “cultural complex” within a society (Sapir, 1916), meaning that an integrated set of practices and beliefs is structured around it, including ecological and cultural knowledge, folklore, ritualized attributes, and symbolic value. The wildlife partner can be a “cultural keystone species” in the human communities involved, contributing substantially to the local cultural identity (human–dolphin cooperation [Catão & Barbosa, 2018; Silva et al., 2021; Smith et al., 2009] and human–wolf cooperation [Dounias, 2018; Pierotti & Fogg, 2017]).…”

“…Presence of people not engaged in human–dolphin cooperation can also threaten the interaction. Increased competition with unlicensed fishers and tourists who want to experience interaction with dolphins for fun can overcrowd cooperative sites in Brazil, reducing opportunities for safe interaction with dolphins (Silva et al., 2021). Boat noise can also interfere with dolphins’ acoustic communication and echolocation while cooperating with humans (Pellegrini et al., 2021).…”

The ecology and evolution of human‐wildlife cooperation

“…In both the human and animal parties of all known examples of human‐wildlife cooperation, the skills required to participate appear to be at least partially socially learnt. Honey‐hunters in Kenya and Cameroon and fishers in Brazil and Myanmar report learning to participate in the local human‐wildlife cooperation from their fathers, or occasionally other close (usually older male) relatives, or friends (Gruber & Sanda, 2019; Isack, 1999; Peterson et al, 2008; Silva et al, 2021; Spottiswoode et al, 2016; Tun, 2004). It is more challenging to characterise behavioural development in the animals involved, but the available evidence is consistent with a similar role for social learning.…”

“…The role of social learning in the development of the skills involved in human‐wildlife cooperation can also have consequences at larger scales, by creating geographic variation in the associated behaviours. For example, aspects of both human‐honeyguide and human‐dolphin cooperation vary with human culture, including the signals used to coordinate the interaction (Laltaika, 2021; Simões‐Lopes et al, 2016; Spottiswoode et al, 2016; Wood et al, 2014), the tools used by humans to access the resource (Laltaika, 2021), the prey species targeted (Fogg et al, 2015; Simões‐Lopes et al, 1998; Spottiswoode et al, 2016), whether humans reward the animal (Laltaika, 2021; Neil, 2002; Nelson, 1983; Spottiswoode et al, 2016; Wood et al, 2014), and human sentimentality towards the animal (Pierotti & Fogg, 2017; Silva et al, 2021). The result is a geographical mosaic of behavioural variation propagated by (potentially social) learning in participants of the two species.…”

“…For example, in some groups that report cooperating with orcas or wolves, the animal became a ‘cultural keystone species’, vital to the community's sense of identity and cultural integrity (de Castro, 1998; Fogg et al, 2015; Holzlehner, 2015; Pierotti, 2011). The affectionate relationships developed with individual animals can lead to people ascribing them names and personalities, which in some cases invoke a belief in reincarnation of ancestors as cooperative animals (da Rosa et al, 2020; Neil, 2002; Peterson et al, 2008; Silva et al, 2021; Tun, 2004). Although comprehensive ethnographic analyses of these interactions are lacking for most relevant human groups, it is clear that human‐wildlife cooperation can take on moral and cosmological significance that influences the behaviours involved and goes beyond the material benefits of central interest to evolutionary ecologists.…”