Enquanto unidade que dialoga com a ideia geográfica de espaço ou território, a paisagem é um conceito multifacetado que nos auxilia no entendimento das interações entre distintos grupos animais e das expressões culturais humanas. Estudos das relações entre pessoas e natureza atuam como instrumentos de compreensão das afetividades e percepções que envolvem complexas teias de relações, o que nos possibilita encontrar nexos relacionais entre humanos e não humanos para pensarmos numa unidade dinâmica a partir de ambos. No Sul do Brasil, ocorre uma peculiar interação entre humanos e não humanos: a pesca cooperativa. Prática ritualizada e tradicional que consagra a Barra de Tramandaí como uma das duas localidades mundiais onde sistematicamente esse fenômeno acontece. Os botos Tursiops gephyreus e pescadores artesanais de tarrafa cooperam na pesca. O boto sinaliza o momento apropriado para os pescadores jogarem suas tarrafas na água, o que otimiza a atividade de pesca e a energia despendida por ambos. A área de estudo localiza-se na “Barra”, um estuário no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. O artigo propõe um diálogo entre disciplinas distintas: reunindo os campos biológico e antropológico, através da inquirição de como se dá a cooperação entre cetáceo e ser humano, analisando como os pescadores praticam as paisagens em que estão inseridos. A coleta de dados aliou a observação participante junto aos pescadores a um questionário livre semiestruturado Através de análise qualitativa dos resultados, podemos inferir que as manifestações bioculturais presentes nas vivências dos pescadores se dão em como eles observam, sentem e leem a paisagem. São experiências portadoras de significados, em que leituras individuais de cada pescador sobre o contexto praticado ressoam transformando-se num conhecimento coletivo e compartilhado, pois entre os pescadores é visto como um domínio de códigos, quanto à interação com os botos e o relato das mesmas dificuldades de manutenção desse fenômeno interespécies.
Ruben Oliven, em seu artigo intitulado “De olho no dinheiro nos Estados Unidos” (2001), afirma que, preocupado com a amplitude do tema dinheiro em relação à sociedade norte-americana, notou que tudo no referido país girava em torno do dinheiro. Por essa razão o percebeu como fato social total, resgatando a clássica definição de Marcel Mauss. Do mesmo modo, eu, desafiado a lidar com esta temática em minha área de interesse na antropologia (a questão da ocupação e transformação do espaço urbano, em sua diversidade inerente), percebi também que abordar a dimensão espacial da cidade implica necessariamente em uma atenção especial à questão do dinheiro. Veja-se o acesso diferencial aos territórios urbanos a partir do poder aquisitivo de indivíduos e coletividades, as regiões diversamente valorizadas economicamente, bem como em termos de estilos e condições de vida - o fato de populações diferenciadas terem legitimidade e condições de habitar e ocupar os diferentes nichos sociais da cidade a partir de suas capacidades econômicas, suas formas de comportamento e identidade exterior (GOFFMAN, 1963). Para Simmel (1991), bem como para Harvey (1989) o dinheiro é força social que permeia tudo em nossa sociedade, apesar de a aparente liberdade fazer com que a onipresença do dinheiro e as formas de dominação em que implica tornarem-se ocultas, não evidentes. Pretende-se com o presente estudo, a partir do que foi exposto, abordar o tema do dinheiro em sua dimensão atrelada às esferas de espaço e tempo na metrópole, tal como nos propõe Harvey, em relação à cidade de Porto Alegre - palco de minhas investigações etnográficas. A questão central que aqui se coloca é: como age o dinheiro – ou como ele se interpõe, enquanto força social - sobre as formas de organização do espaço urbano? Tal questão emerge de minhas incursões etnográficas no campo da antropologia urbana, em que me deparei com a realidade social e cultural de uma comunidade específica na cidade de Porto Alegre/RS: a vila Luís Guaranha, bairro Cidade Baixa. Por que o contato com tal comunidade suscita um estudo em relação ao tema proposto? Trata-se de uma comunidade pobre, majoritariamente negra, cuja estrutura espacial revela aspectos bastante interessantes acerca das formas de habitação popular em Porto Alegre (incluindo-se o aspecto envolvendo a noção de propriedade privada e as casas de aluguel), em sua dimensão temporal. A comunidade se reconhece como reminiscência viva do Areal da Baronesa, antigo reduto de populações pobres e afro-descendentes – em grande parte ex-escravos – que foi sendo paulatinamente descaracterizado de suas feições originais durante o século XX (com mais intensidade a partir da segunda metade do século, principalmente na década de 70). Os moradores da Luís Guaranha enfatizam, em sua estrutura comunitária, o fator de resistência a todo um processo de remodelação da região da cidade que ocupam.
A região nordeste do Rio Grande do Sul tem sido, já por vários anos, contemplada com pesquisas no campo da Arqueologia Pré-Colonial. A problemática que enfocaremos se insere no campo da Arqueologia Pós-Colonial e da Arqueologia Comunitária. Trata-se de um trabalho inédito e pioneiro nesta região. Além disso, inserido nestas circunstâncias, vai colaborar e acrescentar conhecimento ao que já vem sendo pesquisado pela História, Antropologia e Sociologia.
As cidades não envelhecem -transformam-se." 2 (Achylles Porto Alegre) "A tendência natural das cidades, ao contrário do ser humano, é tornarem-se cada vez mais juvenis, é que elas descobriram o elixir da vida eterna: o progresso.(...) Porto Alegre, com seus dois séculos de existência efetiva, tem muita coisa a contar e terá muito mais a dizer, ainda no futuro." ("Porto Alegre: a fonte da eterna juventude", Revista do Globo, 1967) Introdução Achylles Porto Alegre, antigo cronista que destinou grande parte de sua produção à descrição do cotidiano da cidade de Porto Alegre, nos revela, nesta única e direta frase, uma realidade que hoje consiste num aspecto central da vida na metrópole: a sua constante reconstrução e reconfiguração, tanto em relação à sua porção material quanto no que diz respeito aos significados a ela atrelados por aqueles que vivem a cidade, seus habitantes.1 Agradeço ao apoio do CNPq que me cedeu bolsa de Iniciação Científica durante o período de realização desta pesquisa, através do projeto PIBIC/CNPq. 2 Todas as imagens, relatos de cronistas e depoimentos contidos neste artigo pertencem ao acervo de coleções etnográficas do Banco de Imagens e Efeitos Visuais, situado na sala 108 do prédio do ILEA/UFRGS.
Esta monografia tem como tema algumas relações entre o espaço das grandes cidades e o tempo. O assunto é tratado a partir da análise de políticas públicas envolvendo a remodelação do tecido urbano de Porto Alegre, bem como políticas de gestão de memória, em um contexto histórico-social específico: o primeiro mandato de José Loureiro da Silva como prefeito de Porto Alegre (1937-1943). Esta foi uma época de grandes transformações sociais, econômicas, políticas e - mais importante no caso deste estudo - dos usos do espaço urbano e de suas formas de ocupação e vivência por parte dos moradores. A questão da gestão da memória e da historiografia como releitura do passado, realizada no intuito de se compreender o presente e se orientar o futuro, será abordada através de um livro de fotografias da cidade, lançado pela prefeitura municipal como parte das comemorações do bicentenário de Porto Alegre, no ano de 1940. As questões centrais que levanto acerca do período são: qual o estatuto das transformações urbanas em tal contexto? Qual o papel da gestão da memória nesse processo? A partir dessas formulações, buscarei discutir sobre as motivações simbólicas envolvidas na modernização da cidade, enfatizando a visão de cidade que estava sendo construída através do recurso fotográfico no livro lançado pela prefeitura. Cabe deixar claro que este tema de pesquisa – as transformações urbanas – foi o que desenvolvi em meu Trabalho de Conclusão de Curso em Ciências Sociais, no ano de 2003. O objeto de estudo, entretanto, era diverso: abordei principalmente a realização de uma grande obra viária em Porto Alegre na época atual, a construção da 3a Perimetral – grande artéria urbana que corta mais de vinte bairros da cidade. E desenvolvi todo o meu trabalho de pesquisa estando vinculado a uma equipe de pesquisadores, o Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV): um projeto de pesquisa em antropologia urbana, cuja abordagem sobre a cidade é centrada na questão da imagem - tanto em relação à produção na pesquisa etnográfica, como forma de “estar em campo” e abordar os assuntos estudados, como em relação à análise de materiais que retratem aspectos e fragmentos da vida urbana em Porto Alegre. A proposta do Projeto BIEV é o da construção de coleções etnográficas sobre o patrimônio etnológico da cidade, compondo um museu virtual. Como se percebe, o tema do presente estudo é muito afim ao que vim desenvolvendo durante minha graduação (já que na equipe do Banco de Imagens e Efeitos Visuais cada pesquisador estuda assuntos específicos, relacionados ao tema central do projeto) e que ainda desenvolvo, agora cursando o mestrado em Antropologia Social; continuo ligado ao Projeto BIEV como pesquisador associado. A possibilidade de abordar o meu tema de interesse numa época diferente, agora sob a ótica das políticas de reescritura do passado, de representação do presente e de aceleração do tempo em direção ao futuro, me é extremamente satisfatória, e de grande utilidade para meu trabalho de pesquisa
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