Como diz o romancista Júlio Cortázar para o jazz, o que vale como tesouro são os takes, produzidos nos estúdios de gravação e lá guardados como documentos a serem esclarecidos no post mortem de seus autores. Os takes são únicos e não se repetem. Portanto, exclusivos e testemunhos de raros momentos de criações ímpares. Assim, o que vai por aqui escrito é do campo do indeciso, do sendo construído, desconstruído, feito, refeito e seguindo diferentes trajetórias e questionamentos. Neste texto apresento um resumo da tese produzida e defendida.Hoje estou cada vez mais convencido de que as fronteiras entre ciência e poesia, entre ciência e arte e entre o dionisíaco e o apolíneo, dentro do dito mundo acadêmico, confundem-se, fundem-se, imbricam-se. O que afirmo aqui é minha convicção de que as fronteiras até agora tão substancialmente rígidas e pretensamente marcadas entre e diante dos mais variados campos do conhecimento, estão, felizmente, sofrendo abalos, diluições e soluções de continuidade que apontam para trocas transdisciplinares e solidariedade de entrecruzamentos teóricos e metodológicos.Assim posto, vou ao desvendar do palimpsesto.O que é passível de elucidação sobre a existência de teoria na Arqueologia brasileira? Quais teorias estão fundamentadas nas pesquisas no Brasil? Este trabalho foi elaborado na tentativa de responder a estes questionamentos, motivado pela constatação de que, no Brasil, na maioria dos resultados das pesquisas em arqueologia, permanece ainda uma resistência à teoria. Os textos publicados sugerem como se fosse mesmo desnecessário marcar teorias ou elas estão veladas, ocultadas em um proposital mascaramento de inexistência. Tais constatações apontam para um equivocado entendimento do rigor científico da pesquisa arqueológica no Brasil como prescindindo de postulados teóricos. Sugerindo respostas às questões, posso caracterizar não tanto oposição, mas aderência velada a correntes teóricas.As questões acima, no que apontam para a Arqueologia brasileira, são oriundas do que vem sendo constatado como um lugar de falta, de ocultamento ou de descaso. Partindo deste campo do conhecimento, as respostas poderão ser encontradas em vários caminhos ou fundamentações advindas da Filosofia da Ciência, da Epistemologia, da Análise do Discurso. São questões básicas, portanto, que subjazem em qualquer pretensão de um fazer científico. Não há trabalho científico sem base teórica.Neste sentido, assinalo uma incongruência que transparece na produção acadêmica da Arqueologia brasileira, qual seja, um pretenso fortalecimento e conhecimento de métodos em detrimentos de explicitação em termos teóricos. Dito de outro modo, vem salientado o que pretensamente se sabe muito, sobre métodos e técnicas de pesquisas, porém, separado de seus discursos teó-ricos explícitos correspondentes. Pelo exposto, fica claro que o que ocorre nesta