O objetivo geral da pesquisa é problematizar e analisar os discursos sobre os processos migratórios de nordestinos a partir de três artefatos culturais: (1) o quadro televisivo De volta pro meu aconchego, (2) notícias de jornais on-line sobre a pandemia da Covid-19 e (3) postagens nas redes sociais on-line na ocasião das eleições presidenciais dos anos de 2018 e 2022. Esse problema é relevante porque os sentidos atribuídos ao Nordeste brasileiro não tratam exclusivamente de uma delimitação geográfica, mas, sobretudo, de uma delimitação simbólica, que aponta para uma visão negativa e pejorativa desse território e seus habitantes que naturalizam, homogeneizam e perpetuam estereótipos. Ao contextualizar as construções dos sentidos atribuídas pela mídia em relação ao Nordeste e aos nordestinos, que se configuram como uma questão importante para a compreensão das relações estabelecidas em sociedade, faz-se as perguntas de pesquisa: De que forma o quadro De volta pro meu aconchego, as notícias jornalísticas e as postagem nas redes sociais on-line enquadram o tipo social nordestino pobre em suas narrativas discursivas? O que os signos estereotipados que recaem sobre esses sujeitos e essa região sinalizam para a discussão sobre a “questão social” da realidade nordestina brasileira? A pesquisa foi constituída por uma abordagem qualitativa, de caráter descritivo- exploratório, por meio da qual buscou-se identificar, descrever e compreender imagens, discursos e práticas imbricados nas representações midiáticas dos processos migratórios de nordestinos na mídia brasileira. A coleta de dados foi realizada em fontes documentais e públicas, cujas análises se basearam na técnica da Análise Fílmica, conjuntamente com a Análise de Conteúdo. Os resultados mostram que, em linhas gerais, nos artefatos culturais analisados há uma constante representação do Nordeste e do nordestino de maneiras estigmatizantes e estereotipadas, que encobrem e mascaram as determinações reais de o porquê os sujeitos vivenciam tais expressões da “questão social” e motivam uma leitura preconceituosa, moralista, culpabilizadora, pois localiza nos próprios sujeitos e/ou na região a origem dos problemas socioeconômicos que eles vivenciam. Nos três artefatos analisados, a “questão social” brasileira é utilizada como recurso de entretenimento, sendo veiculada de forma desconexa da realidade, sem trazer elementos que problematizam as estruturas sociais que estão na base das desigualdades do território brasileiro. Além dos estigmas sofridos historicamente pelos migrantes nordestinos, tais artefatos potencializam, difundem e reforçam compreensões equivocadas sobre o nordestino e sobre a região Nordeste, de caráter generificado e homogeneizante. Essas discursividades – construídas sob uma ótica capitalista e sensacionalista – reduzem e cristalizam um conjunto de imagens e discursos que contribuem para a construção de imaginários e interpretações acerca dos sujeitos e dos lugares, cujas ideias são, muitas vezes, irreais e já superadas, o que fixa socialmente valores e ideologias como um “comércio” vantajoso, o que aumenta as violências e violações que esse grupo social vem sofrendo historicamente. Palavras-chave: Migração. “Questão Social”. Nordeste. Mídia. Brasil.