O presente trabalho tem como objetivo analisar a polissemia do conceito darwinista de adaptação em livros didáticos de Biologia do Ensino Médio aprovados no Programa Nacional do Livro Didático de 2015. Como ferramenta teórico-metodológica, foi utilizada uma matriz semântica contendo dimensões ontológicas e epistemológicas que forneceram as bases para a proposição de zonas de um modelo de Perfil Conceitual do conceito de adaptação. As análises mostraram que o uso frequente do conceito de adaptação na abordagem de conteúdos de Zoologia, Botânica, Paleontologia e Fisiologia reforçou o papel integrador e central da Evolução no discurso escolar. Prevaleceu entre as unidades de registro uma noção utilitarista da adaptação como estado de ser ou para referir-se a características dos seres-vivos, nas quais a funcionalidade aparece como condição suficiente para defini-las como adaptações, independentemente de sua origem por seleção natural. Esse modo de apresentar as adaptações pode levar os estudantes a relegarem o papel da seleção natural em sua explicação a um segundo plano, ou mesmo a desconsiderá-lo inteiramente, ou a compreendê-la como um processo que atua necessariamente para produzir traços adequados às condições atuais do meio. Diversas abordagens envolvendo o conceito de adaptação enfatizaram as noções de objetivo e propósito, desde uma perspectiva teleológica. O uso recorrente dessas explicações teleológicas pode estar associado ao fato de que esse modo de pensar é bastante comum nas atividades cognitivas, de tal maneira que seu uso seria justificado pela expectativa de que uma linguagem baseada nele poderia apresentar valor heurístico na evolução conceitual dos estudantes. Há, contudo, uma necessidade de fundamentar essas explicações apropriadamente, desde uma abordagem evolutiva e/ou organizacional dos sistemas vivos, de tal maneira que modos de pensar incompatíveis com o entendimento científico na biologia contemporânea não sejam promovidos. Isso traz dificuldades que são de enfrentamento potencialmente complicado no ensino médio, especialmente se considerarmos a ausência na formação de professores, em geral, de uma fundamentação apropriada de explicações teleológicas válidas à luz do pensamento biológico contemporâneo.