Entre os diversos percursos analíticos relativos à obra de Machado de Assis, um dos que mais parece chamar a atenção é aquele que busca aproximações entre os discursos literário e religioso (Cantarela, 2015; Alves; Oliveira; Ivan, 2014; Maia, 2015; Silva, 2016; Proença, 2010; Nova, 1992; Schmidt; Silva, 1978; Brum, 2009). Nesse sentido, para Cantarela (2015), existiriam pelo menos três modelos de leitura do diálogo entre religião e literatura, quais sejam: (a) o modelo dialógico da literatura comparada (caracterizado pela busca de traços de intertextualidade entre a Bíblia e outras obras canonizadas pelas tradições religiosas com a literatura); (b) o modelo dialógico teorizado (caracterizado pela busca de justificativas teóricas para o diálogo entre religião e literatura); e, por fim, o (c) modelo dialógico temático (compreende que a interlocução entre o discurso teológico e o literário pode ser construído a partir de elementos do mundo vivido e com foco em variados temas). Para fins específicos deste artigo, optamos por um modelo analítico que compreenda tanto o dialógico de literatura comparada quanto o dialógico temático. Seguimos esse caminho, já que o nosso objetivo consiste, fundamentalmente, em analisar, nos contos machadianos A Igreja do Diabo e o Sermão do Diabo, a forma como o autor faz uma crítica social irônica ao capitalismo brasileiro de fins do século XIX e início do século XX. É importante destacar que, embora haja obras que tenham a temática da crítica social como um elemento central (Couto, 2016; Bosi, 2004), nenhuma delas parte da alegoria do Diabo.