Durante o último quarto de século, o veloz crescimento da internet e, em especial, das mídias sociais desequilibrou a balança de poder político. Hoje, uma enorme massa de atores privados e públicos, individuais e institucionais, é capaz de viralizar conteúdo. Dado que a veracidade desses conteúdos não é pré-condição para eficácia de sua propagação, o ecossistema informativo restou irreversivelmente alterado. Nesse contexto, o presente estudo pretende analisar o funcionamento da desinformação em redes epistêmicas e suas implicações sociais e políticas na era da hipercomunicação. O estudo adota o método hipotético-dedutivo e instrumentaliza a revisão bibliográfica especializada como ferramenta metodológica. Primeiramente, analisa-se a mecânica da desinformação em redes epistêmicas; depois, alguns desafios informativos, como pressão do establishment, efeitos da propaganda, câmaras de eco e polarização ideológica. Ao fim, realiza-se uma aproximação à epistemologia de Susan Haack e a sua defesa do senso comum crítico. O trabalho conclui que os mecanismos da desinformação não podem ser compreendidos unicamente com base na psicologia individual e nos vieses cognitivos, já que indivíduos perfeitamente racionais podem decidir comportar-se de forma irracional; por isso, o mero influxo de informações e evidências não soluciona o problema; a era da hipercomunicação magnificou distorções, já que mecanismos responsáveis por pequenos “desvios” nas redes de produção de conhecimento locais, quando colocados numa escala global de hiperconectividade, atingem proporções incontroláveis; o senso comum crítico de Haack constitui um parâmetro teórico adequado para compreender a falibilidade de algumas estratégias que buscam mitigar a desinformação.