RESUMOA construção da identidade, considerada como síntese entre a imagem infantil e a que vai sendo incorporada pelo desenvolvimento, é a tarefa principal na adolescência. Nesta etapa, certos eventos, como gravidez precoce, podem significar riscos. Este estudo objetivou compreender como se efetiva a construção da identidade materna em dez adolescentes grávidas, de camada popular. Trata-se de uma investigação longitudinal, com informações coletadas por meio de entrevista semi-estruturada e jogos de sentença incompleta em cinco fases: início do segundo e terceiro trimestres de gestação, segunda quinzena antecedente e procedente ao parto e final do terceiro mês pós-parto, os quais foram submetidos a análise qualitativa e quantitativo-interpretativa. Os resultados mostram que: persiste a idéia de que ser mulher é ser mãe; o desejo de ser mãe se sobrepõe ao conhecimento e utilização de métodos contraceptivos; a gravidez traz constrangimentos e maturidade precoce.Palavras-chave: Gravidez na adolescência. Adolescente. Pesquisa Qualitativa.
INTRODUÇÃOA construção da identidade é um fenômeno psicossocial que se materializa no cotidiano de cada pessoa, através das relações estabelecidas. Desde a infância, é possível identificar os fatores sociais que atuam na definição dos papéis, estando a criança submetida aos estereótipos relacionados à identidade masculina ou feminina presentes no grupo social em que se insere, internalizando, no decorrer do processo de socialização, o modelo cultural que lhe é transmitido, seja do gênero masculino, seja do feminino.Historicamente, a maternagem é uma função feminina por excelência, embora as concepções e práticas em torno do relacionamento mãe-criança nem sempre tenham ocorrido da mesma forma, sendo as variações que sofreram ao longo do tempo uma construção social (1) . Nesta perspectiva, um itinerário histórico entrelaçado ao ritual biológico perpassa a vida da mulher e legitima a importância da maternidade. Ao mesmo tempo, evidencia-se o consenso de que a identidade feminina se mantém articulada às contingências sócio-históricas, sustentadas por ideologias que determinam lugares, papéis e as escolhas da mulher, reafirmando sua função de assegurar a manutenção e a continuidade da vida.Sob esta abordagem, a gravidez na adolescência pode ser considerada um evento cujo significado varia de acordo com o contexto e o tempo histórico em que é vivenciado. Até pouco tempo atrás, a adolescência foi considerada a faixa etária ideal para ter filhos (2) . As mulheres eram preparadas desde cedo para casar jovens e procriar; os filhos eram bemvindos, tinham um lar e os recursos necessários para se desenvolver (3) . Entretanto, nos últimos anos, num contexto em que profundas transformações sociais, políticas, de gênero e de concepção de família redefinem as expectativas em termos de escolarização e inserção profissional atribuídas aos jovens (2) , a gravidez na adolescência assume o caráter de evento gerador de riscos para o desenvolvimento, pois, ao engravidar é como se a adolescente estivesse ro...