Os incentivos fiscais e fundiários regulados a partir do estado, imperial e depois republicano, estiveram presentes na formação social e econômica do que atualmente é denominado como região do Vale do Jequitinhonha. Um processo histórico em que a lógica de pilhagem do território a partir da apropriação de recursos minerais, da terra e das gentes foi marcante. Está colocada, desde sua emergência no circuito mundial da acumulação primitiva de capital, a profunda relação entre a mineração e a questão agrária, juntas conjugando uma situação de fronteira no nordeste mineiro. Neste artigo discutimos sobre a formação socioeconômica do Vale do Jequitinhonha, explorando relações com a questão agrária e a mineração, tomando por foco o garimpo tradicional como um modo de vida. Apresentamos, assim, o processo histórico e geográfico de colonização e as disputas contemporâneas que atualizam a situação de fronteira mineral e agrária, expressas na chegada de grandes empresas do setor mineral, na especulação de títulos minerários e no aumento do preço da terra: no período de 1970 a 1999 havia 541 títulos minerários registrados e no período de 2000 a 2018 esse valor subiu para 5068 títulos, ocupando em 2018 uma em área total de 3.7 milhões de hectares!