INTRODUÇÃOAo longo dos anos, os recursos hídricos sempre determinaram a existência humana, a instalação ou a migração das populações em diversas áreas do planeta, bem como o surgimento ou o desaparecimento de civilizações. Conforme discutido por Rodrigues & Malafaia (2009a), o uso dos recursos hídricos permitiu que civilizações se abastecessem de alimentos e exportassem o excedente, criando riquezas e associando a água à melhor qualidade de vida das pessoas. Por outro lado, o uso inadequado desses mesmos recursos, observado, sobretudo, nas últimas décadas, tem proporcionado impactos negativos à qualidade natural desses recursos e à própria humanidade.Conforme destacado por Moraes & Jordão (2002), até a década de 1920, à exceção das secas da região nordestina, a água no Brasil não representava problemas ou limitações, período este que deu origem à cultura da abundância, que prevalece até os dias atuais. Contudo, ainda segundo Moraes & Jordão (2002), o comportamento do homem tem uma tendência em sentido contrário à manutenção do equilíbrio ambiental, e, assim, os recursos hídricos são gravemente afetados. A expansão e as modificações frenéticas dos processos produtivos, o crescimento populacional, a ocupação de variados nichos ecológi-cos, as migrações e urbanizações descontroladas têm desestabilizado as condições de equilíbrio dos recursos ambientais, entre eles os hídricos (Malafaia & Rodrigues, 2009a). Ações prejudiciais ao meio ambiente aumentam significativamente as condições para que os recursos hídricos se deteriorem e para que as populações tenham graves doenças e, consequentemente, uma baixa qualidade de vida.Nesse sentido, muitos estudos têm se dedicado a estudar aspectos da percepção ambiental 1 da população, para um melhor planejamento e compreensão da visão da população sobre o ambiente e seus problemas. Conforme discutido por Del Rio & Oliveira (1999), fazem-se necessários estudos que enfoquem a percepção da população em relação a diferentes aspectos ligados ao meio ambiente, pois no uso cotidiano dos espaços, dos equipamentos e serviços urbanos, a população sente diretamente o impacto da qualidade ambiental. Pode-se dizer que o estudo da percepção ambiental da população possibilita obter informações importantes, sobretudo, por que pode haver discrepâncias significativas entre os problemas 1 Considera-se "percepções" não somente as formas como os atores sociais vêm o meio ambiente e/ou os problemas ambientais. As respostas derivadas dessa questão trazem formulações conceituais, muitas vezes não derivadas das vivências, das experiências perceptivas, mas de informações descontextualizadas (Marin, 2008). No presente estudo, as percepções podem representar também as formas com que o ser humano se mistura com o mundo, vivencia suas concretudes, se relaciona com os problemas e, coletivamente, tenta construir uma discursividade autêntica que dê conta de exprimir seus modos de viver. Além disso, este estudo possui caráter interpretativo (o qual envolve investigações fenomenológicas e de construção social do ...