A polícia dos pobres: violência policial em classes populares urbanas

Abstract

O artigo discute a violência policial do ponto de vista dos segmentos sociais mais atingidos pela mesma, trabalhadores pobres, negro-mestiços e moradores de Novos Alagados, uma das áreas carentes da cidade de Salvador. Através de 31 entrevistas aprofundadas e uso de técnicas de observação direta, procurou-se reconstituir os tipos de violência protagonizados por moradores, delinqüentes e policiais. Num contexto de pobreza, desemprego e crise dos mecanismos informais de controle social, o aparelho policial gera reações ambivalentes que expressam a dificuldade de a população se posicionar diante de uma força que é vista como violenta e, ao mesmo tempo, protetora. Condenando os abusos policiais contra eles, mas defendendo-os contra indivíduos tidos como marginais, os moradores terminam por legitimar a brutalidade contida no modelo de policiamento.

Insegurança E Violência No Trabalho Dos Delegados De Polícia Civil De Salvador, Brasil

“…Além destas, propõem medidas de redução das desigualdades e o desenvolvimento de mecanismos mais criativos (e menos coercitivos) de promoção da segurança da população. (5) No entanto, o reconhecimento desta prática pelos delegados e delegadas de polícia civil é controverso. Enquanto uma minoria reconhece o uso abusivo do poder no exercício profissional, quase a totalidade dos delegados relatou existir colegas de profissão praticando abuso de poder.…”

“…Estudos revelam diferentes perspectivas para explicação da violên-cia com destaque para os aspectos socioculturais, políticos e econômicos envolvidos neste complexo fenômeno social. (4,5) Para os profissionais da segurança pública que lidam com este fenômeno no seu cotidiano, a violência pode ser fonte de estresse tanto pela questão da vitimização quanto pelas representações conflitivas decorrentes da necessidade de enfrentamento e os sentimentos de medo no exercício da profissão. (6) Apesar de alguns autores ressaltarem concepções diferentes entre uso da força e atos de violência na atividade do policial, este limite é tê-nue e está em constante discussão no cotidiano destes profissionais.…”

A dimensão simbólica dos conflitos: moradores de favela e polícia

“…Como exemplo, a percepção dos moradores de áreas pobres sobre as instituições policiais da Bahia (Machado & Noronha, 2002) e de outras favelas do Rio de Janeiro (Machado da Silva & Leite, 2008) apresenta semelhanças com a visão dos moradores do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo.…”

A linguagem dos direitos. O simbólico nas reclamações dos moradores de favelas

“…Os episódios destacados acima mais uma vez expõem a arbitrariedade e o desrespeito aos direitos fundamentais dos moradores de áreas pobres. A abordagem 12 Como exemplo, a percepção dos moradores de áreas pobres sobre as instituições policiais da Bahia (Machado e Noronha, 2002) e em outras favelas do Rio de Janeiro (Machado da Silva e Leite, 2008) apresenta semelhanças com visão dos moradores do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. 13 Todavia, o fato de ser cada vez mais comum ver demandas por direitos serem publicizadas a partir do acionamento discursivo da cidadania não significa que na sociedade brasileira não vigore mais aquilo que DaMatta chamou de cidadania relacional (2000).…”