Neste artigo é feita uma revisão de um conjunto de estudos sobre a escrita infantil antes do ensino formal e sobre a literacia familiar. O ponto de vista estrutural de Ferreiro (1988) de que as crianças pré-escolares evoluem linearmente de uma 1ª fase em que as escritas não têm em conta aspectos linguísticos até uma última fase de escritas alfabéticas, é contrariado por estudos que demonstram a heterogeneidade dos percursos infantis até à compreensão do princípio alfabético. Em relação à literacia familiar, é realçada a heterogeneidade das práticas familiares e da sua frequência, a qual estará associada às diferentes concepções sobre o papel dos pais no desenvolvimento da literacia dos filhos, sendo demonstrada a importância da leitura de histórias para o desenvolvimento das competências de literacia. São ainda apresentados um conjunto de estudos com programas de escrita que visam melhorar a qualidade das escritas de crianças de idade pré-escolar. Estes programas, aplicados individualmente ou em grupo, demonstraram que as crianças dos grupos experimentais, no pós-teste, passam a utilizar na sua escrita mais letras convencionais e transferem os conhecimentos adquiridos para a leitura de palavras. Para além disso, estes programas conduzem a progressos na consciência fonológica, em particular na consciência fonémica.
Palavras-chave:Conceptualizações, Literacia familiar, Programas de escrita, Idade pré-escolar.
EVOLUÇÃO DAS CONCEPTUALIZAÇÕES INFANTIS SOBRE LINGUAGEM ESCRITAMuito antes do início do 1º ano de escolaridade, as crianças interrogam-se e põem hipóteses conceptuais sobre a linguagem escrita. Trata-se de ideias não convencionais sobre as funções e as propriedades da escrita e sobre o que esta representa.As investigações pioneiras de Ferreiro e Teberosky (1979) e de Ferreiro (1988) mostraram que as conceptualizações das crianças sobre linguagem escrita evoluem ao longo de um processo durante o qual as crianças vão reformulando o seu pensamento acerca da linguagem escrita. Nos seus esforços para compreender os significados das marcas gráficas, e através de interacções com os outros (pares e adultos), as crianças vão-se interrogando sobre as correspondências entre os objectos e a escrita, e sobre as relações entre o oral e o escrito. Ao longo deste processo, constroem hipóteses sobre a linguagem escrita que reflectem uma reconstrução activa da lógica das unidades que são representadas na escrita. Estas hipóteses, que podem estar mais próximas ou mais afastadas da realidade alfabética, evoluem ao longo de um percurso que se traduz em três níveis essenciais de conceptualização.Numa fase inicial, as crianças começam por diferenciar o desenho da escrita e por elaborar critérios que tornam uma série de letras passíveis de transmitir uma mensagem. Estes critérios
135Esta investigação foi possível graças a um subsídio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), Projecto: