Este artigo é o resultado de experiências com materiais orgânicos enquanto potências capazes de transformar o estático em movimento através da interação litúrgica entre corpos e a afronatureza. A partir da intersecção produtiva da minha iniciação/sacerdócio no Candomblé ao longo de minha existência, e na última década enquanto intelectual contribuinte da Arqueologia de Religiões Negras no Brasil, o ebó é analisado como uma tecnologia africana salvaguardada no interior dos Candomblés. Para tanto, o texto é iniciado com uma situação etnográfica, seguida de ocorrências arqueológicas registradas em dois Relatórios de Levantamento de Impacto ao Patrimônio Arqueológico na Bahia para refletir sobre o descarte do ebó em paisagens sagradas a partir da perspectiva afro-religiosa. Continua, com o processo histórico de deslocamento transatlântico de mercadorias orgânicas para fundamentar a liturgia das religiões de matriz africana a partir do século XVIII na Bahia, concluindo com o entendimento sobre a tecnologia do ebó enquanto instrumental físico e energético para a circulação do axé entre corpos biológicos.