Em Uma Viagem à Índia (2010), Gonçalo M. Tavares propõe-nos um exercício de revisão e desconstrução do cânone literário. Tomando por modelo Os Lusíadas de Luís de Camões, esta obra vem apelar à revisitação da mitologia cultural e literária -- não só portuguesa, mas ocidental — através de um conjunto de textos do nosso imaginário de leitores. O intuito deste artigo é apresentar uma análise do texto de Gonçalo M. Tavares, para mostrar como na sua obra a tradição é virada do avesso, instigando à releitura, graças à interação dialética que o presente mantém com o passado. Procurarei demonstrar que a compreensão de Uma viagem à Índia depende necessariamente da verificação de certos procedimentos que caracterizam as relações ``entre textos''. O objetivo é, pois, refletirmos acerca do trabalho de transformação e de assimilação realizado em torno desse texto centralizador, Os Lusíadas, tendo em conta os quinhentos anos que nos separam dele.