Desde sua privatização, mudanças organizacionais no setor elétrico brasileiro impactam a saúde e segurança dos trabalhadores. Este estudo é motivado por três objetivos: descrever (1) desfechos imediatos e tardios de um acidente de trabalho grave no setor elétrico; (2) aspectos técnicos e proximais do acidente e; 3) origens organizacionais e gerenciais incubadas na história do sistema. Neste estudo de caso realizou-se análise documental, entrevistas, grupo focal, e observação direta. Os acidentes têm efeitos diretos e indiretos aos trabalhadores e familiares: dificuldades na reintegração familiar, no meio social e nas relações de trabalho. O estudo de caso permite elaborar hipóteses que sugerem avaliações para verificar se os achados estão se repetindo no setor. O caso revela que as decisões gerenciais no nível local se associam a aspectos da regulação pública que tem como objetivos: (a) a redução do tempo de interrupção de energia, e (b) a redução do preço das tarifas. Estes dois parâmetros têm implicação na acidentalidade do setor, introduzindo fatores organizacionais patogênicos no sistema, seja na introdução de pressão de tempo para a realização de tarefas perigosas, seja na realização de cortes em investimentos, na manutenção, na contratação de pessoal especialmente via terceirização e precarização da força de trabalho, no treinamento e na segurança. A análise em profundidade de acidentes pode contribuir para elucidar como determinantes organizacionais introduzem distúrbios no sistema facilitando os acidentes. Transformar e intervir sobre esses determinantes pode contribuir para tornar o trabalho mais seguro e sustentável.