Os sistemas de escrita alfabética combinam princípios fonográficos -codificação de unidades fonéticas através de um número limitado de letras -e semiográficos -notação de unidades significativas -num quadro complexo de correspondências entre a dimensão oral/escrita, na medida em que não existe uma relação biunívoca nem entre letras e fonemas, nem entre unidades gráficas com sentido (palavras) e os morfemas (Blanche-Beneviste2 002). Assim, nos sistemas ortográficos, nomeadamente no português, existem casos em que o valor fonético dos grafemas depende do contexto e da sua posição (como no caso de "s" com valor de /z/) ou da sua função de notação morfémica (por exemplo "s" em gatos denota o plural e não apenas o som).As características particulares de cada sistema de escrita influenciam a aprendizagem da escrita e a natureza dos erros que as crianças cometem no decurso da sua aquisição. Vários modelos procuram caracterizar (Ehri, 1997;Gentry, 1982; Henderson & Beears, 1980) a evolução infantil na aquisição da escrita, postulando que as crianças atravessam vários estádios qualitativamente diferentes ao longo desse processo. Antes de qualquer ensino formal as crianças começam por diferenciar a escrita do desenho (Ferreiro, 1988), principiando a atribuir um valor comunicativo a uma sequência de letras. Ainda sem relacionar a escrita com a representação de segmentos sonoros, procedem a diferentes arranjos de sequências de letras e pseudo-letras de modo a diferenciar palavras nas suas tentativas iniciais de escrita. Estes princípios grafo-perceptivos regulam a possibilidade de uma série de letras transmitirem uma mensagem. Posteriormente, as crianças descobrem que a linguagem escrita transcreve unidades do oral. A descoberta dessa correspondência parece realizar-se ao nível da sílaba para línguas como o espanhol e português (Alves-Martins, 1996;Ferreiro, 1988). Noutras línguas, como no francês (Besse, 1996), as crianças ligam o tamanho das escritas à duração da emissão verbal associada a uma palavra. É frequente em muitas crianças de idade pré-escolar aprenderem de modo mais ou menos informal o nome de algumas letras (Mason, 1980), o que permite que elas comecem a mobilizar, nas suas escritas inventadas, letras convencionais mesmo antes da sua entrada para a escola. Esta mobilização é mais provável acontecer em palavras que contenham sequências fonéticas representativas do nome das letras (Mann, 1993;Treiman, 1998). Resumindo, nesta fase, designada por alguns autores como alfabética parcial ou semi-fonética (Ehri, 1997;Gentry, 1982) as crianças começam a representar foneticamente os sons mais salientes das palavras recorrendo à estratégia nome das letras