ResumoEste artigo aborda o envolvimento dos jovens adultos na esfera pública digital e procura identificar algumas questões importantes relacionadas com este fenómeno, bem como alguns dos desafios de investigação futura. Tem-se afirmado recorrentemente que as gerações mais novas se encontram desencantadas com a tradicional política partidária, preferindo formas alternativas de envolvimento político. Em simultâneo, tem-se constatado que, decorrente do seu atual envolvimento com as TIC, e das oportunidades únicas que estas têm para oferecer, a esfera pública digital se transformou no local de eleição para representação destas novas formas de envolvimento político. A hipótese de que os jovens adultos fazem parte de uma geração digital que redefiniu os seus modos de funcionamento na sociedade foi o fator de motivação de um estudo realizado com estudantes universitários de quatro países diferentes 1 para analisar de que modo estas novas práticas se desenvolvem nas várias esferas das suas vidas. Exploramos, entre outros aspetos, em que medida e de que modo a Internet se tornou um novo vetor de participação polí-tica entre jovens adultos. Utilizaremos parte destes dados para sustentar a nossa reflexão sobre o envolvimento dos jovens adultos na esfera pública digital e para voltar a analisar as premissas clássicas daquilo que constitui a esfera pública. Conclui-se o presente trabalho partilhando as nossas perspetivas sobre este fenómeno e discutindo pistas de investigação adicionais nesta área.
Palavras-chaveEsfera pública digital; envolvimento político; jovens adultos; TIC
IntroduçãoO envolvimento dos jovens adultos na vida política é uma questão crucial para as sociedades democráticas de todo o mundo. De facto, a falta de envolvimento dos jovens adultos na política partidária tradicional, e que se reflete na afluência às urnas, tem sido amplamente estudado ao longo dos últimos anos. A afluência dos jovens (18-24 anos) às urnas nas eleições presidenciais americanas diminuiu continuamente ao longo dos últimos 40 anos (Mindich, 2005: 22), tendo passado de 50,9% em 1964 para 32,3% em 2000. Uma situação idêntica ocorreu em Quebeque, no Canadá (Bélanger e Nadeau, 2009;Blais, 2008). Porém, esta tendência não é especificamente norte-americana, tendo-se verificado desenvolvimentos semelhantes na Europa Ocidental, no Japão e na América Latina (Niemi e Weisberg, 2001). Em França, por exemplo, registou-se uma diminuição na participação política tradicional (nas eleições, na campanha política) e um * Os restantes investigadores que participam neste projeto são: Pascal Plantard,