ResumoNeste artigo propõe-se uma contribuição da teoria da vinculação na compreensão dos processos de adaptação dos adultos ao seu divórcio e como a desvinculação ao ex-cônjuge interfere na coparentalidade pós-divórcio. Este artigo formula duas hipóteses teóricas. A primeira hipótese afirma que o divórcio, enquanto processo relacional, deve ser lido como um momento de perda que germina reacções psicológicas similares às experienciadas pelos viúvos, tal como descreve Bowlby no modelo de perda da figura de vinculação, estando dependente dos estilos de vinculação dos adultos. A segunda hipótese sustenta que a coparentalidade pós-divórcio é predita pelos estilos de vinculação e pela qualidade da reorganização da vinculação dos pais. Finalmente, uma integração teórica é apresentada, operacionalizada numa proposta de investigação futura neste domínio. Palavras-chave: Divórcio; Vinculação; Psicopatologia; Adaptação; Coparentalidade.
AbstractIn this article, it is proposed the contribution of the attachment theory for understanding adults' adjustment processes to their divorce and how detachment to ex-spouse can infer in co-parenting relationships after marital dissolution. This article makes two theoretical assumptions that focus on two dimensions. The first hypothesis states that the divorce, while a relational process, should be read as a moment of loss that germinates similar psychological reactions to those experienced by widows. Bowlby describes it in his model of loss of the attachment figure as dependent on attachment styles of divorced adults. The second hypothesis argues that the post-divorce co-parenting relationships are predicted by the attachment styles and by the quality of parents' attachment reorganization. At the end, a theoretical integration is built, based on a proposal for future research in this area. Keywords: Divorce; Attachment; Psychopathology; Adjustment; Co-parenting. Holmes e Rahe (1967), no seu estudo de referência, mostraram que o divórcio é o segundo stressor mais destruturante na vida adulta, imediatamente a seguir à morte do cônjuge. Na perspectiva da teoria da vinculação, não é surpreendente que, na longa lista de potenciais estressores descritos empiricamente, duas situações de separação/perda encabecem os eventos de vida percepcionados pelos adultos como os mais exigentes do ponto de vista da sua reorganização psicossocial. A maioria dos estudos conclui que as pessoas divorciadas experienciam menor bem-estar psicológico, piores níveis de felicidade e maiores índices de sintomatologia psicológica, nomeadamente depressão e ansiedade, quando comparadas às pessoas que permanecem casadas. Os adultos divorciados reportam mais distress psicofisiológico, perdas acentuadas na segurança económica e financeira e no suporte social, alterações depreciativas na percepção do self e desestabilização emocional nos sistemas de procura e prestação de cuidados