Por vezes, a confiança com que uma testemunha recorda um crime relaciona-se com a exatidão da recordação. A investigação sugere que esta relação é complexa e pode ser influenciada por diferenças individuais. Neste estudo procurou-se perceber qual a influência da autoestima, impulsividade e tipo de tomada de decisão nesta relação. No procedimento apresentou-se um vídeo de um assalto, questões sobre este, e pediu-se a atribuição de julgamentos de confiança sobre as respostas. Os participantes responderam e julgaram também questões de conhecimento geral e responderam a escalas de autoestima (Rosemberg Self-esteem Scale), impulsividade (Barratt Impulsiveness Scale) e tipo de tomada de decisão (Cognitive Reflection Test). Os resultados revelam não haver influência das variáveis estudadas na calibração, sobreconfiança e exatidão das respostas, e também mostram maior subconfiança em questões de conhecimento geral comparativamente com as questões de testemunho. Os resultados indicam também que os participantes que utilizam um processo mais racional nas suas tomadas de decisão (sistema 2) apresentam maior exatidão e confiança do que os participantes que utilizam um processo mais intuitivo (sistema 1).Palavras-chave: Confiança, Calibração, Sub/Sobreconfiança, Testemunho, Conhecimento geral.
IntroduçãoIntuitivamente, entende-se que a confiança (C) com que uma testemunha é capaz de recordar detalhes de um crime está relacionada com a exatidão (E) da recordação desses detalhes (Wells, Linday, & Ferguson, 1979). No entanto, a investigação revela que esta relação é complexa (Bornstein & Zickafoose, 1999). Neste estudo procurou-se investigar o papel das diferenças individuais na relação confiança-exatidão (C-E) na memória de testemunhas e com questões de conhecimento geral. Na primeira parte deste artigo começaremos por referir-nos aos estudos já existentes sobre a relação entre confiança e exatidão, depois abordaremos as diferenças entre questões de conhecimento geral e testemunho e terminaremos referindo o efeito das variáveis individuais na relação C-E.
Relação entre a confiança e a exatidão das respostasA literatura tem apresentado resultados contraditórios na procura da relação confiança-exatidão no testemunho. Os dados da investigação são díspares e vão desde afirmar que a relação C-E é baixa ou inexistente (Brown, 2003; Perfect, 2004, Exp. 1;Wells & Murray, 1984) até forte e positiva (Luna & Martin-Luengo, 2012). A investigação sobre a relação C-E em testemunhas tem-
265A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: João Fundinho,