O padrão de dieta de uma espécie é resultante da interação entre mecanismos ecológicos e/ou evolutivos que determinaram a estrutura do seu nicho alimentar. Quando uma espécie apresenta sobreposição de hábitat com o nosso, é muito importante compreender a influência dos fatores antrópicos na dinâmica dessas populações. A ordem Strigiformes é representada, principalmente, pelas corujas e tem ampla distribuição na natureza e nas proximidades das cidades. O objetivo deste trabalho foi caracterizar o padrão da dieta de Athene cunicularia, através da análise de parâmetros populacionais e variáveis ambientais em uma população com ocorrência numa área antropizada, nos arredores da cidade de Goiânia-GO. Foram avaliados os itens de dieta nas pelotas regurgitadas (egagrópilas) de coruja-buraqueira ao longo de um período de onze meses. Foram registrados a heterogeneidade de itens e a variação sazonal na quantidade de egagrópilas. Outras variáveis, também, foram coletadas tais como, os itens por ninho, a distância em relação aos logradouros e aos postes de iluminação pública, o tamanho populacional, a densidade por ninho, o comprimento e a altura de cada ninho. Após a triagem, foram analisadas 190 egagrópilas, coletadas em 23 ninhos. De forma geral, foram observadas diferentes categorias de itens alimentares tais como, vertebrados (predominantemente, roedores e marsupiais) e invertebrados (coleópteros, ortópteros e outros, provavelmente, himenópteros e isópteros). As relações entre os fatores antrópicos e as distribuições dos itens alimentares não apresentaram uma correlação estatisticamente significativa para as amostras analisadas. Entretanto, a predominância de invertebrados (principalmente, insetos) na dieta dessa espécie pode indicar que, em áreas urbanas, isso não é apenas preferência alimentar. Pode indicar o efeito da maior disponibilidade desses recursos. Dessa forma, é importante entender a dinâmica alimentar dessas aves, tanto em ambiente urbano como rural, a fim de se estabelecer medidas de conservação e, também, realizar o mapeamento da distribuição da fauna sinantrópica predada por elas. Esses dados podem auxiliar no estabelecimento, por exemplo, de medidas de controle biológico de invertebrados, contribuindo com futuras políticas públicas para o município.