RESUMO -O presente trabalho possui o duplo objetivo de apresentar a concepção da dor como um processo complexo e subjetivo, como também de apontar a psicoterapia como um recurso capaz de redefinir a influência do contexto que perpassa a experiência de dor. Partindo-se de três estudos de caso de pacientes com dor crônica, destacou-se a complexidade da experiência dos sujeitos, perpassada por processos culturais, biológicos, sociais, pessoais e históricos, como ainda as formas pelas quais a psicoterapia proporcionou mudanças significativas na inserção dos sujeitos em seus respectivos contextos relacionais. Ressaltase a importância do papel do terapeuta na desconstrução de narrativas inadequadas e na compreensão da dor enquanto um processo subjetivo ligado ao sujeito e ao seu mundo social.Palavras-chave: psicoterapia; dor; complexidade; subjetividade; contexto.
Psychotherapy, Pain and Complexity: Building the Therapeutic ContextABSTRACT -The present study has the dual purpose of presenting the conception of pain as a complex and subjective process, but also referring to psychotherapy as a resource for redefining the influence of the context that surpasses the experience of pain. By analyzing three cases studies of patients with chronic pain, we observed the complexity of their experience pervaded by cultural, biological, social, personal and historical process, as well as the ways in which psychotherapy provided significant changes in the insertion of subjects in their respective relational contexts. It is highlighted the importance of the psychotherapist's role in the deconstruction of inadequate narratives and in the understanding of pain as a subjective process linked to the subject and his social world.Keywords: psychotherapy; pain; complexity; subjectivity; context. A dor de origem orgânica consiste em uma das grandes preocupações dos profissionais de saúde da atualidade, de maneira que os psicoterapeutas têm sido levados a desenvolver diferentes estratégias para lidar com suas variadas formas de expressão (Carvalho, 1999; Patterson, 2004). No entanto, mesmo tendo se constituído como um dos principais temas presentes na origem da psicoterapia (Carroy, 2000;Laurence & Perry, 1988;Neubern, 2009a), sua compreensão tem sido fragmentada, na maioria dos casos, em diferentes dimensões que impedem uma compreensão psicológica mais profunda da dor enquanto experiência do sujeito (Skevington, 1995). Parece existir uma lacuna nada desprezível entre as discussões que privilegiam uma compreensão fisiológica e as que se restringem a uma concepção cognitiva da dor (Levy & Walker, 2005), de maneira que permanecem inúmeras indagações sobre a dimensão emocional, as construções de sentido e significado e as trocas sociais mediadas pela cultura que perpassam a experiência dos sujeitos. Nesse sentido, os estudos que procuram contemplar a complexidade subjetiva na experiência de dor do sujeito têm sido relativamente raros (Kornblit, 1996;Neubern, 2009b) e ganhado pouco espaço na literatura especializada.Não seria errôneo considerar ...